terça-feira, 20 de julho de 2010

A Beira Interior tem muitos "fatos", mas não tem quem os vista


Os políticos bem falam da Beira Interior, mas soluções estruturantes para fixar populações não se notam e o horizonte do desenvolvimento para esta região está muito distante, senão num patamar inacessível.

Quem seguir depois da A23 a Estrada Nacional nr. 112 que liga Castelo Branco a Coimbra, fica um pouco zangado com o que os políticos têm feito pela Beira Interior. É certo que existem melhores ligações rodoviárias e é também certo que a reflorestação surtiu efeito, encontrando-se dum modo geral esta zona do interior profundo bem equilibrada com o tom verde que cobre a paisagem, revelando uma tonalidade própria duma zona que incrustada na pedra e no xisto poucas hipóteses tem de alinhavar o desenvolvimento por industrias que não sejam a pastorícia e a florestação. O parque eólico pode encontrar uma ajuda no vento fresco que praticamente corre pelas montanhas, movimentando as pás implantadas nos cumes da cordilheira que por sua vez descarregam a energia produzida nas linhas de alta tenção e que se prolongam a perder de vista. De facto as muitas estradas e auto-estradas construídas seriam uma janela de desenvolvimento se houvesse mercadoria acabada para vender, mas não há, a Beira Interior está entregue ao destino dos chouriços, dalguma pastorícia, do fabrico dalgum queijo e pouco mais – a paisagem está em plenitude mas o que rende e produz desenvolvimento roda as franjas das faldas das montanhas que não tem população residente numa distância de 180 km para trabalhar e moldar o terreno à sua maneira para produzir o que quer que seja – os residentes com implantação real, contam-se pelos dedos e por essa via não existe desenvolvimento quanto mais uma saída para quem se quer fixar e sobrevir nas terras do “demo”, onde a mais pequena distância, serrania dentro, requer esforços sobre-humanos – a Beira Interior não tem sustentabilidade a não ser para as acácias importadas da Austrália, que ferozmente colonizam numa primeira fase as bermas da estradas e depois paulatinamente atulham o interior duma floresta selvagem que não dá esperança ao desenvolvimento sustentado e de forma traiçoeira escondem dos olhares a beleza que circunda a 112 e que poderia ainda se bem estruturada ser uma fonte de rendimento para todos os que procuram num mundo brutalizado quase irracional, encontrar regiões não poluídas, sem ruído e envolta num manto de paz paradisíaca – ou os políticos se deixam de “fintas”e empregam a massa cinzenta para ajudar ao desenvolvimento nesta área bastíssima e de beleza inenarrável, retornando ao cantoneiros que pacientemente limpavam as bermas dando luta à invasão das “ervas daninhas”ou uma área que mistura uma fauna riquíssima com paisagem admirável atolará no pântano descoberto em Lisboa matando o que resta duma esperança para a Beira Interior.
Portugal deve ter uns dois milhões de pobres, três milhões que se esfalfam para pagar a tirania dum Estado que para se sustentar nas ideais luminosas, esgana de impostos e taxas aqueles que ainda trabalham – por inactividade sustentada ou por absentismo reformado o número deve orçar pelos três milhões o que deixa perceber que os Governos até hoje fizeram alguma coisa, mas não nos sítios certos – Portugal está a morrer num paraíso celestial e isso é fatídico como o fado de Lisboa que teima em cantar “ as tábuas do meu caixão”.

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