quinta-feira, 30 de outubro de 2008

AVEIRO é uma cidade da qual todos os Ilhavenses gostam



Ílhavo e o desacerto da vizinhança

A auto-critica é um exercício obrigatório que deve constar das lembranças de todos aqueles que nasceram no concelho de Ílhavo e que na qualidade de cidadãos de pleno direito, têm a obrigação de contestar ideias, de criticar ou de fazer qualquer outra coisa que tenha por alvo um qualquer assunto que no campo da opinião possa ser um factor de desenvolvimento no que ao todo regional diz respeito – é justo, é pertinente e faz todo o sentido, nem que para isso se tenha de concorrer a eleições e atingir o objectivo, não de opinar para o vento quente do deserto, mas para onde se executa e decide. No entanto é necessário ter em conta que o mundo dos que, com uma certa idade ainda deambulam por auto-estradas e voam no espaço infinito das ideias são sempre bem vindos ao mundo onde as leis não existem e livremente se pode fazer e dizer o que se quiser – por outro lado e sabendo que existe sempre o reverso é preciso entender que todos devem fazer um esforço para refrear o contexto em que as ideias se movimentam, já que todos sabem ser ditadas por impulsos cerebrais esgotados num mundo em que os próprios se afundaram porque não encontraram em tempo útil as soluções para o que não conseguiram atingir – neste caldo onde se mistura tudo e de onde emergem combinações explosivas é frequente assistir-se ao “apunhalamento” do próximo com requintes de verdadeira malvadez, outros, esganiçam-se a soprar hosanas à sua passagem pelo quintal da sua actividade, outros, contam repetidamente as moedas, outros, inventam histórias que toda a gente já conhece, outros, de olhos brilhantes e febris olham em redor, para cima e para baixo e vêm inimigos ocultos em todo o lado e outros e à falta de melhor vocalizam para o espelho um conteúdo avassalador de soluções insubstituíveis, vindo-lhe automaticamente à memória que os “aquecimentos globais” podem ser travados com um sem número de pedregulhos alinhados na linha de costa ou então e pensando melhor, talvez reduzindo o potencial das vacas em bombardear monóxido de carbono para a atmosfera afivelando-lhe ao ânus uma saca plástica ou ligando o que seria melhor uma saída para o fogão da cozinha mais próxima – isto são deambulações que o cérebro executa sem precisar do consentimento do corpo e o mais prodigioso é que em situações extremas, não consegue discernir a tempo o ímpeto suicida que pode inclusive provocar a sua, ou a morte política de outrem – (…),1- serão os seres humanos capazes de desafiar a atracção gravitacional do materialismo e da materialidade e elevar-se acima da identificação com a forma que alimenta o ego e os condena à prisão da sua própria personalidade?

Porque o vento está de feição, talvez seja tempo de alar o ferro atolado no lodo e emergir para factos mais superficiais, que podem, por agora ser as célebres barafundas que no passado garantiram visibilidade a S. Salvador, que não ao concelho. No tempo em que o mundo não tinha ainda os alicerces carcomidos por vícios crónicos, havia muita interacção social às vezes com “foguetório”e banda filarmónica que pela calada da noite desafinava, havia festa onde os saloios se encontravam com gosto, havia “tascas” típicas em quase todos os cantos e aí de forma descomplexada apregoavam-se as novidades mais bem guardadas e o vinho tinto e os bolos de bacalhau como os melhores do mundo eram os cabeças de cartaz – a língua sempre deprimida e sempre ansiosa por se libertar da bocarra sempre fechada e a tresandar a odores intragáveis, descontraía e com o vinho grosso a olear as cordas e os lábios ressequidos pelo calor do tabaco, desenvolvia-se de forma um tanto atabalhoada um caudal de novidades acabadas de chegar ao terreiro – eram tempos bons, tempos de bonança e descontracção, onde o “stress” e a depressão encafuada no sótão e que causavam doença séria, eram prensadas de encontro ao couro cabeludo de maneira a não chatear muito e as conversas que se cruzavam entre os espaços ocupados ao balcão, eram o eco que oferecia conteúdo brejeiro às noviças moçoilas, que sem abono faccioso eram de facto sempre consideradas as mais bonitas e bem feitas – todos os olhares se afundavam quando uma moçoila costureira de profissão, “podre” de vaidade, passeava a silhueta iluminada de alto a baixo, pavoneando-se de largo com ares de actriz e com o vestido de chita a “dar a dar”. No calor das conversas e quando o reportório do quem engana quem, se ia esgotando vinha ao de cima o segundo tema que era normalmente tentar expurgar das consciências o trauma das gentes que sabiam pertencer a uma terra com posses muito diminuídas por falta de talentos – os santos, os poetas, os marinheiros e de modo geral todos os outros, afastavam-se do burgo e só retornavam e ainda retornam quando estão anémicos – quem cá ficava e ainda fica permanentemente, a não ser que emigrem, são sempre os mais apegados ao patamar da infelicidade material, o que é confrangedor e lamentável. O caso da “ terra da lâmpada” era um assunto abordado no calor do terceiro copo e a rodada seguinte animava as almas com a sábia esperteza do figurão que ludibriou meio mundo. Depois da conversa ser apanhada no ar por todos, alguns mais astutos na sagacidade que a provocação favorece, anima-se a reunião com desafios variados e volta não volta entrava em acção o farol de Ílhavo que era de Aveiro. Por norma quem pagava estas questiúnculas mal cicatrizadas eram os cagaréus que de vez em quando apareciam no “ Texas” e eram corridos ou à pedrada ou à bastonada.

É interessante pegar neste assunto porque, Aveiro, nunca mais parou de dar nomes de Aveiro a empreendimentos localizados no concelho de Ílhavo o que não se passou noutros distritos e à luz duma inter municipalidade saudável deixando claramente subentender que Aveiro se pudesse já tinha engolido Ílhavo, como alias sem rebuço o está a fazer com as freguesias da sua própria jurisdição administrativa e isso merece um chamada de atenção que não pode ser considerada ingerência no que os Aveirenses decidem porque eles são soberanos – deixando um bocadinho de lado a soberania serôdia, há pouquíssimo tempo, um certo oportunismo, sub-reptício porque nunca foi assumido, tentou ganhar pontos não ajudando nem esclarecendo interesses com uma freguesia do concelho de Ílhavo o que abona a tese da conspiração silenciosa e não fica bem a uma terra que todos os Ilhavenses adoptaram como sua, uma estratégia de personalidade dupla, em que, só faltou obrigar o comboio a girar em torno de bela cidade, para o fazer entrar no Porto de Aveiro pelo centro de S. Salvador – é obra.
Num passado próximo reavivou-se novamente um certo tipo de Aveirismo, que não Aveirense que de forma explícita, exigiu a construção da Universidade no centro da cidade, desclassificando de forma autocrática outras localizações com potencialidades de poder aceitar um crescimento polar contínuo e sustentado. Obviamente não se abordará a discussão do Porto de Aveiro na G N porque é bater no molhado, mas lembra-se ao Aveirismo que se os sanitários não tiverem inscrito o nome de sanitários de Aveiro” é uma falha imperdoável e devem resolvê-la quanto antes, porque senão alguém se pode apropriar do material orgânico e isso seria com certeza uma afronta imperdoável, que mereceria certamente um reparo fundamentado na Assembleia da Republica para repor o produto desviado.
Quanto a “barafundas” estamos conversados mas todos temos o “feeling” que algumas coisas se passam nos “corredores do poder” o que deixa os “ bifes panados” (deputados que ouvem, vêem e cheiram com dificuldade) em maus lençóis e a leste do paraíso.

Desta vez e fugindo à revessa porque o vento uiva e a chuva cai em catadupa talvez seja de acrescentar à técnica mista uma direcção conspirativa de maneira a poder obter resultados com o desgaste do ataque às partes baixas, que é uma técnica muito utilizada por boxadores à beira do KO técnico – a CMI (as pessoas ficam de fora) têm dívidas do curto prazo e médio, longo prazo, que são de tipo usual em todos os municípios, em todos os governos e em todos os particulares – ninguém sobrevive hoje sem dívidas desde que estas se mantenham “debaixo de olho” e dentro dos índices de solvabilidade, que como todos sabem está “debaixo de fogo” do Tribunal de Contas e de outros Organismos Autárquicos de fiscalização – a CMI até hoje, não teve, apesar da permanente fiscalização das contas e das auditorias, qualquer indicio ou suspeita de irregularidade que lesasse o erário publico – a PJ não interveio, não apreendeu computadores nem papelada administrativa e que se saiba não fez qualquer investida na CMI e isso deveria colocar a cereja no bolo – as obras executadas ou em curso têm um destinatário que até agora não se queixou e teima ano após ano, na mesma orientação politica. Aliás basta olhar com os olhos lavados na água do mar para se verificar que as transformações são de razoável qualidade e até admira que alguns estejam possuídos do “ ensaio sobre a cegueira” – isto é, apesar de estarem no placar as perguntas e as respostas, apesar de se ter efectuado obra e ter sido sucessivamente caucionada por eleições universais, democráticas e livres, a CMI é constantemente enxovalhada na praça pública e condenada de forma sumaríssima, de forma pouco elegante e com uma ferocidade digna de registo, quando com masoquismo perverso acrescentam aos compromissos financeiros do curto prazo, o Centro Cultural, a Biblioteca o Museu e a célebre Marina – o relatório que tem ares de mandatário / idiota, garante da moralidade social e política do concelho, não evita assinalar com desvelo puritano o selo acusador da vergonhosa e cínica conduta pessoal – algo de muito grave se passa no mundo dos anões.

Ora bem, esta onda, onde se pode surfar à vontade por quem o desejar, é construída para desafiar os perplexos, dirigindo-se precisamente na direcção de todos os que, de forma pensada e estratégica tentam ultrapassar o respeito institucional, colaborando com um tipo de complexo autocrático, que não tem sustentabilidade nem credibilidade eleitoral e que, é a maior das traições à democracia e ao que ela representa depois do 25 de Abril de 1974 – a democracia para muitos e logo depois de terem votado?, é saltar para um galho acima do povo e exigir aos gritos o derrube de quem foi eleito.

A diferença ideológica combate-se nas urnas, a contestação política combate-se na rua e a arruaça boçal escrita ou falada combate-se com argumentos sérios, responsáveis, competentes e equidistantes – fazer o contrário é alimentar a “fama” que infelizmente grassa como o escaravelho da batata nos meandros da má-língua concelhia e que por azar promete resistir ao veneno.
(1)-eckhart tolle – um novo mundo

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Só um Povo excepcional podia desbravar e garantir a soberania das fronteiras...





Sem a força extraordinária dalguns portugueses, não seria possível que o intelecto percebesse o presente, quanto mais o futuro…

Portugal é um pequeníssimo país e acredita-se que de grande alma e fibra temperada na fornalha das dificuldades constantes, porque sabe-se que o povo que o forma, sem margem para qualquer dúvida é esperto, corajoso, persistente, resistente e com índices de assimilação altas, mesmo em ocasiões de grande fragilidade. Sem estes atributos, não teria sido possível ter “oferecido” ao Brasil, Angola e Moçambique as imensas fronteiras que possuem, para além evidentemente da fundação de pequenos enclaves e pequenos países espalhados um pouco por todo o mundo. Alguns procuram sempre estudar e classificar os portugueses de acordo com o que fizeram de mal, comeram, beberam e estudaram. O “ zé-povinho”, imortalizado por Bordalo Pinheiro e que pode ser o tal do (queres fiado, toma), ou ainda o tal pequeno camponês com tonalidades do vinho tinto no nariz, com o guarda-chuva preso na casaca e com o papel da décima na mão, são imagens brejeiras, que não qualificam os portugueses, antes os enaltecem como gente simplória mas bem preparada para o trabalho físico e que olha sempre o dia a dia como se este fosse o último. Ao contrario destes expedientes publicitários e que marcaram épocas, os portugueses em geral, são resistentes, espertos, manhosos e acima de tudo são pessoas que se adaptam com grande velocidade aos acontecimentos, mesmo não tendo os conhecimentos necessários de que outros não prescindem – os portugueses em geral são pessoas de trato afável mas também imprevisíveis e violentos, que quando desafiados pela desconfiança ou pela lei da sobrevivência se colocam na primeira fila dos melhores dos melhores e arriscam com facilidade a própria vida, aventurando-se no mundo onde quer que ele esteja – estes portugueses a rodopiar na área da existência primária existem e proliferam no húmus das terras, das gentes e dos sistemas, não sabem o que é” beber chá em criança”, nunca tiveram meios para se valorizar no que quer que fosse (e eles não esquecem isso), como outros conterrâneos que embora não tivessem sucesso constante nas suas actividades de preparação, tinham sempre a dona complacência protectora coligada a um estatuto sempre paternalista e que, quer quisessem quer não, havia sempre disponível um refúgio seguro e impenetrável “junto às tábuas”, tornando-os “mansos” e esses, são, os tais portugueses em particular que estão adaptados ao sistema, por isso são os mais beneficiados e por razões de análise mas não de sectarismo, estão excluídos deste pequeníssimo exercício – portugueses sem qualquer tipo de formação profissional nos últimos anos prosseguiu até às últimas consequências com a liquidação das escolas Comerciais e Industriais ( as tais escolas para pobres) e inexplicavelmente aqueles que deveriam responder por tal desvario neste particular desmantelamento educacional continuam a “monte”, aliás como outros que destruíram sectores inteiros da frágil economia portuguesa e hoje refastelados nas poltronas continuam a ditar “bitaites” e a redefinir o que ajudaram a destruir.
È verdade que numa época em que havia conhecimentos de construção naval, muita mão-de-obra bruta (as mãos calosas e armadas de musculatura dos serradores das vigas das caravelas, eram iguais às mãos dos escaladores e salgadores da pesca do bacalhau e iguais às daqueles que para abrir caminho na mata cerrada usavam catanas ou ainda iguais às mãos dos que abriam grutas nas minas ou buracos na construção das estradas à força de pá e picareta) e conhecimentos muito limitados sobre o que estava em jogo era fácil arrebanhar para o trabalho um segmento populacional pouco ou nada esclarecido e sem qualquer capacidade para esgrimir qualquer tipo de beneficio – coincidindo com o tema dos “ novos mundos” que outros trouxeram para o tabuleiro da aventura, um sexto sentido na realeza faz sentido e pode revelar-se a chave do sucesso dos portugueses nas descobertas – os portugueses desde a independência tiveram sempre “um olho no burro e outro no cigano” daí que e sabendo que depois dos mouros afastados, existia terra a sul depois de ultrapassado o mar, o “olheiro” sempre manhoso, deve ter percebido sem dificuldade que o “mundo” se estenderia muito para além do pequeno apêndice conquistado aos infiéis. Uns, dirão que a historia está mal contada e que os portugueses apenas se limitaram a fazer o que os deixaram fazer, no entanto e fazendo a comparação possível, só um grande povo sobrevive num conclave político onde cada um é melhor e mais desconfiado que o outro e onde é sabido que os “ louros” de obra feita, é sempre para quem se “coloca” no comando; só um povo extraordinário aguentaria as condições de vida a bordo duma pequeníssima nau onde acontecia de tudo, desde um “comando” brutal de grilhões, chibatadas e julgamentos sumários, passando pela apropriação física das tripulações condenanda-os sem dó nem piedade a trabalhos duma dureza inimaginável para não falar das inexistentes condições de saúde mental e física que eram usuais nestes tempos onde “alguns humanos” não eram nem podiam ser considerados pessoas iguais às outras. Quem estudou a grande saga dos descobrimentos descobre com facilidade que não se conhece quase nada, nem datas de nascimento, nem filiação, nem origens, nem destinos daqueles que sem a sua força hercúlea não teria sido possível descobrir, construir, conquistar ou ir mais além – infelizmente só se conhecem alguns dirigentes, alguns, muito pouco descritos, sendo todos os outros obreiros duma epopeia, excluídos e apagados da história no que à epopeia dos descobrimentos diz respeito – nos dias de hoje passa-se tudo da mesma maneira, embora se reconheça que começa a existir alguma sensibilidade pela descrição do cadastro dalgumas actividades onde a vontade férrea e a força do trabalhador desconhecido foi e é ainda insubstituível – a vergonha de se enaltecerem sempre os mesmos deve ter pesado e ainda bem, porque assim atenuou-se a pouca vergonha da usurpação dos acontecimentos em proveito próprio e do auto-elogio que de tão egoísta ainda plana baixinho e é usufruto feudal – não se sabe quem é mais importante, se marinheiros que comem a “ração”, dormem no “ninho do cão”, são escravizados em trabalhos forçados por “superiores”, não têm horário e são punidos por tudo e por nada com requintes de malvadez e absoluta prepotência, içam a pulso velas gigantescas para “apanhar” o vento, ou quem se limita a constatar factos que a simples experiência qualificada num pequeno “canudo”certifica.
Portugal, teve sempre gente que utilizou a sua força bruta por falta de igualdade nos tratamentos e porque em última análise esta era a única mais valia que possuía, o inacreditável é que outros bem mais nivelados, experientes e ao serviço dum desígnio particular bem pensado e bem redigido, se apropriaram dum meio inultrapassável e que sem ele, todas as campanhas seriam inexequíveis e estariam condenadas ao fracasso – a isto chama-se descaramento ético com usurpação de direitos e cimenta muitas das dúvidas e invejas que dividem os portugueses – os portugueses, não são todos iguais embora alguns líricos que nem cantar sabem, reclamem com denodo para o clã os louros duma visão social global para a qual eles próprios não têm plano, nem visão global, nem solução – todas as desigualdades se resolveriam com contribuições objectivas de verdadeira e sincera solidariedade universal, mas muitos que incansavelmente perseguem tal caminho raramente “cantam vitórias sectoriais” porque reconhecem existirem obstáculos globais inultrapassáveis e que o futuro com o evoluir dos acontecimentos irá sem rebuço caucionar.
A todos os que utilizaram a sua força em “obras faraónicas”e muitos deles deram a vida por factos e acontecimentos que pertenciam inequivocamente a outros interesses, vai esta pequeníssima lembrança que certamente será absorvida na voragem dos tempos que como todos sabemos, não se compadece com pormenores insignificantes.
Também as fotos acima são uma pequena homenagem a todos os que de forma desconhecida e extrema, trabalharam na pesca (escrava) e combateram no ex-ultramar português, com prejuízo da própria vida, ao serviço de valores históricos existentes à data e que por razões conhecidas da história se negaram discutir.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

"Armar ao pingarelho" continua a sêr uma velha profissão

Conversas com Ílhavo, que para alguns é o umbigo

Um familiar próximo emigrou para os Estados Unidos da América à roda dos anos 40 e foi direitinho para Newark N. J. tendo encalhado como milhares de Portugueses na Ferry Street. Parecia no seu dizer que por aquelas bandas se estava em Ílhavo tantos eram os conterrâneos que tinham ali poiso e dali partiam às cinco da matina ou para New York ou para qualquer outro lado trabucar no que aparecesse para ganhar algum para enviar para a familia. Para esta ilustre gente, arranjar trabalho de que espécie fosse, residência, amigos e conhecimentos era coisa fácil para quem estava habituado a tratar o quotidiano com racionalidade, já que, sabe-se desde o princípio do mundo que a pobreza só se resolve com humildade, persistência e trabalho árduo – o único problema com este ilustre Ilhavense era inultrapassável quando falava das gentes de Ílhavo, já que no seu entender eram uns convencidos, uns invejosos e muitas vezes uns caloteiros.
Isto de se ter que usar o trabuco para vencer as inércias que tolhem e por vezes não permitem sequer comer é coisa que passa despercebida a muitos e com especial particularidade a alguns engalanados na sustentação académica que os barra na gloriosa soberba e os transforma em arrogantes e auto glorificados com muita facilidade. A soberba é um estatuto que patinha a par do ridiculamente auto-convencido e que por vezes se confunde com aquela altivez que tem a ver com substância social, com demonstração de capacidades, com inteligência …com ética. Alguns, estratificados e obviamente certificados no largo do bispo, têm tendência excessiva para acelerar tal comportamento e como psicose delirante que é, querer alterar ou manipular o curriculum atribuindo-lhe um valor que ninguém reconhece, teme-se que ganhe estatuto. Requere-se com urgência que pelo menos não se perca a integridade da inteligência nem a ordem e clareza dos pensamentos, dos actos e das vontades que minimamente se lhes exige para que a correcção seja mais tarde feita e o respeito institucional que se deve aos outros seja finalmente reposto em plenitude.
O Concelho de Ílhavo tem alguns explícitos com curriculum e por isso mesmo é uma terra que concorre com os Concelhos limítrofes e não envergonha hoje ninguém. O problema que surge no imediato é a forma pouco usual como alguns troca-tintas (a acha sai à racha, Maria à sua tia), encaram o comezinho da vida ordinária e se desunham para derrubar, danificar ou destruir os seus pares quando são os primeiros a reclamar para si próprios, mais liberdade e mais democracia, como se vivessem na estratosfera e fossem extraordinariamente virgens. Quem julga quem? Com um descaramento vergonhoso e inqualificável, transferem para si próprios a inteligência, o carácter, a honra e a ética e acelerando a fundo por insatisfeitos, auto proclamam-se os arautos de toda a verdade e para certificar tal ambição, encastelam-se no centro da aldeia e ali ficam cegos com a irrealidade que alucinadamente inventaram.

Ao contrário dos fantásticos emigrantes que são homens e mulheres do foro universal, onde todos os dias carregam o fardo da subsistência, outros (abençoada mãe que tais filhos pariu), deleitam-se com a existência duma órbita decadente que escorre e se dilui nos canteiros de flores murchas e fora de tempo.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O que desce sobe e o que sobe desce

Os dólares que encheram o mundo de esperança e que se teme, venham a fraquejar

A América e por falta de mão-de-obra para trabalhos extremos, inventou o slogan do “self made man”, que atraiu muitos milhões de pessoas que por falta de condições mínimas nos seus próprios países demandaram automaticamente as terras do Novo Mundo em busca dum “El Dourado” que se mostrava “ in extremis” um ponto brilhante no horizonte e eventualmente redentor duma vida de miséria que a agricultura da enxada e do arado sempre propiciavam – quando isso não acontecia logo a oportunidade da pesca brutalizada nas velas de lona branca embutidas em mastros que tocavam o céu e nos conveses abarrotados de trabalho escravo se apresentava na agenda não dando folga.
Em 1929 milhares de Portugueses anestesiados por firmeza de carácter q.b. e uma indómita vontade de vencer demandaram New York encafuados em porões de cargueiros duvidosos onde a saudade, os cheiros, a fome, o frio e o calor sobravam. A travessia do Atlântico era perigosa mas os portugueses acabados de ser promovidos a emigrantes puxavam dos galões de lata dourada a apanhar erva de foicinha, ou então dos trabalhos ganhos a limpar os estercos que os currais da vacas e dos porcos produziam sempre em quantidade. Quando o barco fundeava com New York city à vista, sobressaía a ponte de Brooklyn e a miríade de luzes que aureolavam o porto, eram o ponto que antecedia a visita do “passador” que avisava que a partir deste momento os clandestinos estavam por contas e risco. O íman estava ali, plantado frente a Manhattan e para quem estava habituado a ruas de terra batida e luzes que alumiavam 5 metros ou nem isso, o medo apoderava-se do cérebro não o deixando verter o raciocínio – uma coisa era certa se o barco aportasse e fossem descobertos seriam imediatamente presos e deportados – outros que sofreram esta agrura, fizeram avisos que agora eram recordados com muita intensidade trazendo à mente os contos tenebrosos de que o mar estava coalhado de ácidos e que muitos tinham desaparecido sem deixar rasto.
Eram duas da manhã, o cigarro puxado até ao limite, queimava o lábio, o mar estava calmo, a noite luarenta e a confiança em alta e um dos embarcadiços deixou-se escorregar para o mar e nadou, nadou até encalhar exausto perto do porto que fervilhava de movimento. Duma saca presa às costas mudou de roupa, verificou se as duas notas de 5 dólares ainda lá estavam e demandou a rua nua e crua que se lhe apresentava na frente.
Noutro ponto os Americanos cercavam a catedral dos sonhos e choravam as perdas financeiras que o colapso do 29 de Outubro de 1929 se tinha refastelado em apresentar a todos os que acreditavam sem pestanejar na América dos sonhos.
Os emigrantes indocumentados, sem falar a língua e sem qualquer espécie de contacto local, enfrentaram uma saga de grande estoicismo e só uma grande armadura de coragem possibilitou que este e outros desatassem os nós e perseguissem a labuta duma guerra travada sem dó nem piedade. Este emigrante durante os dias que a seguir se passaram ao desembarque alimentou-se de café e expedientes, aqueceu-se nos bidões de petróleo, dormia com os mendigos nas cavernas existentes por debaixo da grande cidade, até que um dia e com a ressaca da recessão a esvair-se, arranjou um “americano” que lhe deu trabalho e o ajudou a legalizar. Foram dias terríveis até conseguir amealhar algum dinheiro para fazer face às expectativas e aos muitos problemas que as famílias portuguesas sempre pobres enfrentavam.
Passaram anos, a depressão foi sendo esbatida, muitos milhões de dólares foram transferidos para os países de origem e muitos outros e apesar da desvalorização do dólar face ao euro continuam a viver de conta do “amigo americano”.
Novamente a 30 de Setembro de 2008 e separado do colapso anterior 79 anos, a peste, a fome e a guerra, faz mais uma vez a sua entrada em cena abanando com intensidade catastrófica o domínio das estruturas financeiras do mundo e fazendo com que tudo volte ao princípio dos pobres a aguentar e a pagar a crise.
Portugal sempre padrasto e anotando mais uma vez a debandada de jovens que procuram noutro lado o que não conseguem de maneira nenhuma obter no lugar de nascimento, continuam incrédulos a ouvir os políticos e outros bem conceituados na praça, vociferar que o que é preciso é coragem para aguentar uma crise que mais uma vez irá desabar sobre os mais desfavorecidos e que no seu inteligente conceito estarão sempre um pouco acima da linha de água. Era bom que estivessem abaixo porque assim o argumento seria muito mais patético, já que ontem como hoje Portugal tem os “mesmos” no poder e o resultado dos que estão a boiar são muitos e mais desejosos de emigrar para qualquer lado.
Hoje não existe vergonha em ser-se português quando se fala do futebol, mas que isto vai de mal a pior para os mesmos é uma realidade insustentável.

(Michael Elliot da revista Time, em artigo de opinião, pergunta se a América terminou uma era?)
Sinceramente todos devemos torcer para que outra “era”, surja no curto prazo impulsiva e apaixonada como a de ontem.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Olhares que prescrutam com ansiedade o horizonte

A “democracia” potencia uma perigosa balança desequilibrada no seio da diáspora Portuguesa

A “democracia” o melhor dos sistemas, teria algum sucesso se o Estado regulasse com competência e os níveis formativos fossem ministrados com responsabilidade provada e apreendidos por mais de 60 % da população.
Uma minoria instruída tem todo o direito de exigir mais e melhor democracia, só que as maiorias pouco ou nada instruídas e a maior parte das vezes sem suporte afectivo e parcos nos haveres materiais, ficam reféns dum estatuto que só muito dificilmente lhes chega por acaso, por vias de estatuto social, financeiro ou outro. È impensável exigir num estado democrático como é o português, que um lavrador, um operário, um mineiro ou qualquer outro mal amado alguma vez se aproxime do patamar dalguns que por via hereditária ou “estrada segura” atingiram o patamar da assimilação dos poderes que a democracia concede. Também é impensável que os benefícios sociais como a justiça o ensino a saúde e outros cheguem às casas dos “democratas ingénuos”, que inadvertidamente sustentam o sistema com o voto, com a mesma impetuosidade com que chegam a casa da minoria pesadamente armada dos poderes instituídos e que sem vergonha permanentemente reclama a seu favor das falhas do sistema.
O Estado depois do 25 de Abril alimentou e continua a alimentar sem freio a proliferação de diferenças sociais e sustenta sem vergonha que uma data de irresponsáveis incompetentes e oportunistas, continuem sem freio nos dentes a desbaratar o suor de quem trabalhou anos e anos sem descanso e com a ingenuidade estampada na testa, quando espera que o “ estado” lhe garanta como prometeu à exaustão uma mão de benefícios e um descanso no final dos 65, daqui por mais alguns meses 70 anos de trabalho árduo.
A “democracia” por muito que isso custe a alguns, não pode nem deve ser encoberta com “direitos” sociais duma minoria homossexual, tem de estar ao serviço de todos os Portugueses com equidistância e não pode nunca estar ao serviço incondicional de intenções parasitarias e que intoxicarão sem qualquer pejo na consciência, a vida de quem está agora a nascer.