domingo, 25 de agosto de 2013

Batalhão 774, Companhia 771 - (10) ANGOLA

...o célebre Bar do Jardim por onde passaram todos os que representaram Portugal na Guerra Colonial...a Cuca e a Nocal arrefeciam as gargantas atafulhadas do pó da picada...

A camaradagem unia e não raras vezes havia intercâmbio entre militares - os oficiais, por razões que se compreendem, lidavam noutra esfera e mantinham um recato estratégico que lhes permitia comandar e serem obedecidos... mas a tropa portuguesa, uma das melhores do mundo, desde que não houvessem insatisfações declaradas obedeciam com respeito e acompanhavam os ditames desde que os considerassem justos - a 771, ao nível do comando cumpriu e que se saiba, não existem razões de queixa...


1 -Saída para fruta; 2 - A USI sempre presente e a cama do Carvalho que me foi cedida quando ele estava de partida para o "Puto"; 3 - almoço com gente que bebe "Cuca" ou "Nocal" e se ri ; 4 - Camuflagem, com o Mendes, o Faria e o AR; 5 - O Brilhante, o Esteves,? o Araújo, o AR, o Aguiar e o Oliveira - os Milicianos estavam presentes na primeira linha...

Nóqui, era um entreposto que vivia em paz aparente com o Congo e paulatinamente sem stress visível controlavam-se as passagens dos combatentes e a PIDE, que na guerra era duma eficiência absoluta, quer nas informações, quer nas novidades quanto a mudanças de tática guerrilheira, preparavam a situação para uma estadia calma e aparentemente segura – a PIDE sabia quase tudo o que se passava e informava os altos comandos que depois, escolhiam a estratégia – com as informações da PIDE, muitas vezes os pelotões da 771 demandavam o mato, colocavam armadilhas, esquematizando emboscados pouco agressivas e não raras vezes constataram a passagem de mulheres e miúdos que passavam nas barbas dos pelotões emboscados (ouvia-se dizer isto em surdina...) – a 771 era uma Companhia responsável e calma e que compreendia muito bem o que estava em causa, por isso não se atrevia sequer a alarmar os passantes que desejavam alcançar a lavra, a família ou o sossego da sua terra, apesar de estarem incorporados na fila inimiga…

O Matombo, uma espécie de drogaria, vendia de tudo, a piscina, um café com bilhar, o bar do Jardim e do Ribeiro e o comerciante Falcão, este último fornecia peixe fresco  que ia buscar a Matadi, não esquecendo a Intendência, um organismo militar que fornecia carne, davam a sensação que só a terra, as gentes e as sanzalas pareciam diferentes do que conhecíamos – nesta localidade da ZIN os tempos foram bons apesar das saudades do “Puto” que começavam a fazer moça, quando através da BBC ou da rádio Argel tínhamos noticias de emboscadas e consequentemente mortes de portugueses…é preciso esclarecer que a companhia 771 e no que diz respeito aos reabastecimentos, estava preparada, atenta e quase nunca embarcou em facilitações de armas espalhadas a esmo, ou em descuidos fatais como seja o de se apresentar demasiado descontraída e distraída…um dos sucessos desta Companhia que não teve um único morto em combate, era a sua especialização e a sua capacidade para não “ brincar em serviço”…treino antecipado com tiro real, zonas perigosas ou que não ofereciam visibilidade eram calcorreadas a pé e como sempre a breda era imprescindível nas colunas, que, salvo alguns contratempos, abria os horizontes fazendo com que a segurança fosse sempre o patamar mais desejado e isso foi a solução que permitiu a todos passarem pelos “pingos da chuva” e chegarem sãos e salvos ao “Puto”…sei isto tudo porque calcorreei os caminhos do Norte e raramente falhei um reabastecimento...

... a 771 teve sorte em não ter tido baixas, o que existiu estou certo, foi que, não deu ao inimigo a oportunidade para fazer emboscada e isso foi determinante para escapar ilesa...o inimigo esteve no encalço da 771 e esta informação era  do PIDE destacado para Nóqui que me dava notícias e depois me pedia rações de combate ( carne enlatada, chouriço, atum, queijo, marmelada, bolachas, etc.) - as rações de combate eram do melhor que existia apesar de serem enlatados e o Chefe da PIDE ( que não lembro o nome) sabia disso e quando inquirida dava notícias...


Nazis escondidos em Matadi

De notar um incidente em Nóqui, que desejo relatar – no tal café, atrás do Jardim, com bilhares, um dia reparei que eram visita assídua 3 alemães bem parecidos, loiros de olhos azuis e que andariam pelos 40 anos – não estranhei, o facto até porque era normal haver visitas do lado de Matadi para frequentarem a piscina, até que um dia apareceu em Nóqui um alemão que vendia frigoríficos e que pediu à Companhia 771 para ficar uns dias, até que uma coluna o protegesse para um outro destino…um dia fui com ele ao tal café e os alemães estavam a jogar bilhar – informei-o que os cavalheiros eram alemães e ele, solicito, dirigiu-se-lhes e a conversa não demorou mais de 15 segundos – ao chegar ao pé de mim disse com ar consternado que, alemães eram, mas não falavam como alemães – olhei para o lado e os três em passo de corrida afastaram-se e nunca que eu saiba foram mais vistos – estes cavalheiros só poderiam ser fugitivos da segunda guerra mundial – embora tivesse percebido a anormalidade, por pura ingenuidade não atingi ao tempo a faculdade de ter percebido que os visitantes eram quase de certeza nazis…para se esconderem dos crimes de guerra cometidos o local era mesmo estratégico e com variadas opções de fuga…

...fora este caso, a possibilidade de existirem confrontos bélicos era real e o teatro de guerra era extremamente frágil...todos sabiam que a morte espreitava a cada curva...

 O Tope visto por Carlos Maciel a residir actualmente no USA
 Maciel e o Furriel....
 Maciel, o furriel Aguiar, o furriel Araújo e ...

 Maciel o furriel Brilhante o Aguiar e....
Maciel, o furriel Brilhante e...

...nestes frágeis Unimogues, onde havia um banco de madeira onde estavam sentados 12 operacionais, virados para cada lado da picada,  nunca se sentou nenhum oficial do quadro militar ( profissionais), da mais baixa à mais alta patente e a razão é que consideravam estes " rapazes" suficientes para oferecer o "corpo às balas"... alguns deles, consideravam-se a "reserva intelectual" e a maior parte deles nunca saíram dos quartéis a COMEÇAR PELO COMANDANTE DA COMPANHIA - os V. Lourenços, os Otelo e dezenas de outros formados nas Academias Militares, nunca souberam o que era fazer uma saída para o mato ou arriscar na picada dum reabastecimento...mas souberam estar presentes quando os Milicianos lhes "roubavam os lugares" e por isso e não por outras razões desencadearam o 25 de Abril, onde hoje se pavoneiam outros "parasitas" do sistema... - os  políticos laicos e certamente com ferimentos psicológicos quando estiveram encarcerados no Tarrafal em Cabo Verde, mas que se saiba nunca se sentaram num buraco feito por eles mesmo, para se safar das morteiradas...aparecem hoje, como se tivessem sido os verdadeiros heróis de "todas as guerras" da independência portuguesa.. é sabido que estes "heróis" tinham muito dinheiro para fugiram para Paris e se deslocarem a Londres quando quisessem, quando foram acossados e porquê, pela simples razão de que os tomates estavam bem guardados nas cuecas e eles nunca explicaram de onde lhe veio o fundo de maneio para fazerem a vida que faziam... os verdadeiros heróis não "desertam", combatem, oferecendo a sua própria vida àquilo que consideram a sua causa...Mandela e muitos outros empenharam à causa a sua própria existência física... Ramalho Eanes, poderia ter sido um verdadeiro herói, mas por razões que se desconhecem não " alinhou"... outros bem mais oportunistas ocuparam-lhe o lugar...



...o segundo a contar da esquerda o célebre Zé da Breda e outros camaradas a pique-nicar...o convívio dava " corpo" e coragem para enfrentar o dia a dia...


...pré no bolso e "cuca" fresquinha a lavar a garganta do pó da picada... O Tavares, denominado Lisboa estava sempre na primeira linha...

...neste local existiam canhões sem recuo, o que mantinha Matadi em sentido... nestes tempos conturbados, Portugal, ao assumir a soberania das Colónias, contra tudo e contra todos era Um País com "garra" - Salazar apesar das insuficiências ideológicas ( assumidas)  que se lhe reconhecem, era um político inteligente com carisma e SÉRIO - deixou uma pequena conta de depósitos a prazo, um par de botas, uma caneta, uns óculos e uma casa arruinada, que ainda hoje perdura,  em Santa Comba Dão...

...ponte, junto ao hospital em Nóqui...


...a capinagem era crucial para manter a defesa...

Depois de 12 meses no Cabeço do Tope fomos instalados em Nóqui...um local que conhecíamos muito bem, já que os reabastecimentos eram na Intendência - descontraídos, dávamos uns mergulhos na piscina e bebíamos umas cervejas no Bar do Jardim...

Quando da deslocação do Tope para Nóqui, obtive a possibilidade de me deslocar a Portugal por morte do meu pai, tendo sido da pista em terra batida do Cabeço da Velha que obtive uma boleia para Luanda, apanhando depois o 707 da TAP para Lisboa – o piloto tinha uma aparência ilustrativa do modo de viver africano e sempre de cigarro na boca e com ar pouco disciplinado, não me perguntou nada e apontou a traseira da pequena avioneta que estava atafulhada de embrulhos – aconcheguei-me conforme pude e fiquei à espera – depois de se despedir, entrou, fechou a porta com a pé e ligou a chave – o motor ronronou e como quem guia um carro deu meia volta, alinhou-se sem parar com a pista que terminava com um morro enorme, acelerou e num curtíssimo espaço levantou voo – o morro corria contra nós e eu pensei que o meu destino tinha chegado ao fim – no último segundo puxou a alavanca e o pequeno avião sobrevoou o pico do morro saindo disparado para o rumo que ele deveria conhecer muito bem – já em velocidade e altura de cruzeiro, largou os comandos, esticou-se o mais que pode e não alcançando o que queria, perguntou se tinha sede – empurrei com um dos pés uma Vat 69 caída por debaixo do banco e o piloto não se fez rogado, bebeu sofregamente uma ou duas goladas e nunca mais abandonou a garrafa – perto duma hora de voo, sem aviso, picou o avião como se fosse largar uma bomba, sobrevoou a copa das árvores e apontou para a esquerda – vi uma manada de elefantes que fugiam e o nosso homem quase lhes tocou ou então foi impressão minha – com ar de gozo, bebeu pela garrafa e olhou para mim que devia estar amarelo e perguntou se tinha visto os “gajos” a fugir - chegado a Luanda e com as diferenças de altitude que o avião alcançou deixou-me num estado miserável e para meu mal constatei, que, estava meio zonzo e não ouvia nada – o “cagaço” foi de tal ordem que não repeti apesar do piloto me ter dado um cartão para lhe telefonar – na volta embarquei à boleia das companhias que vinham a Luanda reabastecer, demandando depois a Norte, onde estava localizado o quartel...em Angola as pessoas confiavam e conheciam-se todas e não era difícil obter de alguém que nunca tínhamos visto um sorriso, um crédito, um favor, um aceno, um convite ou uma conversa, ao contrário do que se passava no "Puto" onde a hipocrisia começava a ter uma nascente política impetuosa...

No retorno da viagem ao “Puto” passei por S. Salvador, onde encontrei Ilhavenses combatentes (Ângelo Torrão e Madeira), o que foi um acontecimento incrível, que proporcionou abraços e certamente a bebida de cucas e mais cucas e histórias fresquinhas…nesta viagem não consegui chegar a tempo ao quartel, porque as colunas por isto ou aquilo atrasavam-se e só alcancei Nóqui uma semana depois da data a que estava obrigado a chegar e isto porque em S. Salvador apanhei uma barcaça do tempo da segunda guerra mundial e que me transportou de São Salvador ao porto de Nóqui – os olhos dos crocodilos na noite eram faróis e eu tive uma pena enorme de não ter fotografado a viagem, mas mesmo assim foi um acontecimento inenarrável - o mestre da barcaça orientava-se pela margem  e não raras vezes se enredava na folhagem que cobria o Rio Zaire e com um foco apontado à margem lá foi navegando até que, para alegria minha,  aportou ao Porto de Nóqui - chamado ao Comandante, recebi uma reprimenda pelo atraso, embora no final da campanha este mesmo Comandante me tenha dado um louvor que está inscrito na Caderneta Militar...
 Maciel e a célebre piscina de Nóqui.
 Maciel e os diversos ângulos de Nóqui

Maciel, o furriel Brilhante e....


...Um imbondeiro a marcar o local duma terrível  EMBOSCADA - morreram neste local 16 portugueses que tinham acabado de chegar ( ainda maçaricos) - a 771 tinha acabado se ser rendida e todos passamos no local dezenas de vezes para o reabastecimento - soubemos deste caso no Lufico...


...desta pista, recordo, uma boleia para Luanda - o piloto apontou o fundo do avião onde ia misturado com correio, sacos de verduras e depois de ter descolado numa manobra incrível, puxou com o pé uma Vat. 69 e bebeu uma golada - em rota de cruzeiro o " colonial" apontou o gargalo da garrafa na minha direção e como eu tivesse abanado a cabeça, bebeu outra grande golada e muito antes de chegar ao destino a garrafa estava vazia - um bocadito eufórico picou o avião e mostrou-me como se faz uma tangente às árvores e aos animais que me pareceram elefantes - na volta e apesar do colonial me garantir o retorno, preferi terra firme...chiça que o homem era amalucado...



O Zé Martelo e o Zé da Breda, que em coluna para o reabastecimento marcavam a diferença, impondo respeito...uma arma como esta a trabalhar em pleno, dava novo fôlego quando estávamos por nossa conte e risco no meio da picada, onde tudo acontecia...



1 - O Cabeço da Velha, foi remodelado depois de nós e tiveram o privilégio de serem equipados com pré fabricados, o que para o tempo era um luxo...até a picada foi asfaltada...a picada asfaltada tornava tudo mais seguro - melhorava o stress da picada e dificultava a colocação de minas...


Um memorial em Nóqui à memória dos portugueses mortos (16) no local, entre Nóqui e o Cabeço do Tope, denominado, Cabeço da Velha…este Batalhão é posterior à nossa estadia e com certeza passamos todos neste local dezenas de vezes nos reabastecimentos a Nóqui e nunca, por sorte ou outra qualquer sina, aconteceu nada de grave…estar sempre desconfiado, atento e firme, era a chave para desencorajar os ataques... um memorial em Nóqui em alvenaria em relação a mais um ponto negro da odisseia da Guerra Colonial e que se espera não tenha sido derrubado depois da independência...

Na chegada ao Tope encontrei o Carvalho (um Ilhavense) que me ofereceu a sua cama, já que nesse dia estava tudo preparado para avançar para Luanda…o Carvalho estava muito feliz por ter acabado a campanha sem problemas de maior e disse-me que a área era boa, mas que era preciso estar atento, porque numa rendição anterior, tinham morrido de emboscada uma série de militares inexperientes (maçaricos) - nesta área a história de tempos a tempos repetia-se, o que era trágico já que não havia ninguém que soubesse mandar – tomei nota - nas rendições, quem decidia, aprendeu a enviar as companhias para zonas menos perigosas, aumentando o desafio à medida que se ganhava experiência – era uma boa tática, mas a 771 manteve sempre a moral alta e os treinos com fogo real devem ter alertado o inimigo, para o novo inquilino que jogava pelo seguro – quando se saia para o reabastecimento ou mesmo para desempenhar ações de contenção, as armas eram limpas e vistoriadas até ao limite e nunca se perdia a noção de que dum momento para o outro a morte podia estar à espreita – havia buracos nas picadas enormes onde podia caber uma berliet, sinal de ataques antigos e isso era indicativo que o local apesar de aparentemente calmo era muito perigoso atendendo à proximidade com o Congo, que permitia atacar e fugir com facilidade, criando uma instabilidade às vezes pior do que enfrentar um acidente ou uma emboscada - os " turras" notando que havia descontração a mais ( tinham batedores ao longo das picadas), planeavam o ataque com calma ( ás vezes  a espera durava duas ou mais semanas)  e o tempo jogava a seu favor - a emboscada requer que o fator surpresa atinja um nível alto e quando era desencadeado o ataque, este, normalmente era mortífero para a tropa portuguesa...

No Tope quando chegamos às barracas que serviam de quartel, eram do pior que havia e só o engenho dalguns artífices especializados em construção civil puderam modificar – em poucos dias fizeram-se maravilhas toscas – nestas mudanças um soldado que tinha a cama carregada de percevejos teve a ideia de os combater espalhando gasolina no colchão de palha, ao qual chegou fogo – num ápice o incêndio alastrou e transformou em alvos as granadas, salvo o erro de bazuca, que estavam acondicionadas por perto…foi uma sorte, esta brincadeira irrefletida, não ter feito estragos…a partir da requalificação todos passaram a ter um refeitório e o ambiente geral melhorou…o soldado em causa por ter sido considerado "cacimbado" não teve reflexos nos comandos...um outro soldado cacimbado lembrou-se de soldar uma fuga de combustível no depósito dum unimog e não tendo tido as precauções necessárias, ocasionou uma explosão que feriu com gravidade  os intervenientes...num outro dia e quando havia uma queimada para desobstruir a visibilidade para os sentinelas, ficou aceso uma pequena tocha que com o vento desaparecia e aparecia...o sentinela de posto pensou ser um "turra" a fumar e vai daí, não brincou em serviço, disparou umas rajadas que pôs o quartel em alvoroço...tudo fugiu para os abrigos que eram pequenos buracos no chão...não era nada mas poderia ter sido e o sentinela cumpriu as normas...primeiro dispara e depois pergunta...

A "ciganada" no Cabeço do Tope – a energia era de gerador e racionada, o frigorífico era a petróleo e a água obtida a partir dum pequeno afluente que passava perto do aquartelamento, o rio LUÉ…neste contexto, havia quase mais vinho do que água...



...festa no Tope... os " Rítimos" estavam em ponto de rebuçado...




O Cabeço do Tope - era  desta base que queriam que combatêssemos o inimigo...a moral estava alta e nada derrubava a 771...mas..."água mole em pedra dura, tanto dá que fura"...notar as diferenças entre 65/67 e 67/69 - este acampamento só visto e só gente com muito resistência poderia habitá-lo 12 meses...havia macacada em tudo que era sítio...

Lembro que esta água do rio Lué, estava carregada dum barro vermelho e que quando se tomava um duche (tripé com um barril de gasóleo), o sabão não ensaboava e a toalha ficava vermelha…as condições de vida neste quartel, estavam no limite daquilo que se podia aguentar, mas era o que havia…apanhei uma espécie de caspa grossa que só foi resolvida com muita tintura de iodo e muitas "carecadas" ...

Depois duma temporada neste quartel, passamos a Nóqui que era uma "hotel" comparado com isto...em Nóqui havia vida social aos fins de semana - o pessoal de Matadi visitava a piscina e fazíamos um convívio muito interessante com as pessoas que eram muito simpáticas...a 771 passou bons tempos em Nóqui e para quem desejar voltar a Angola, talvez Nóqui/Matadi e para quem tiver veia empresarial, seja uma boa fuga à crise...claro que em África as coisas mudam num segundo...é preciso ter cautela...




Um jipão arruinado pela guerra e uma queimada que abria os horizontes à tropa...quanto ás queimadas resta dizer que eram intencionalmente provocadas ... não me lembro de alguém dizer que o fogo ateado ao capim era uma causa natural, provocada pelo calor (40 graus centígrados)...o capim só ardia quando se lhe chegava gasolina e um fósforo...um dia no rio Lué e depois duns mergulhos resolvemos ir à caça...de repente começamos a ver fumo que caminhava na nossa direção e os estalos do capim ( que arde como gasolina) estavam cada vez mais perto...o rio foi a salvação...uns "espertos"  mais a montante resolveram fazer uma queimada para abrir caminho e não se preocuparam com mais nada...

Uma queimada sazonal na estação seca, que diga-se de passagem era um bem para a natureza que se reinventava e uma dádiva para a tropa que ficava com o ângulo de visão limpo…não raras vezes o crescimento luxuriante da natureza, aplicava um susto, visto que os sinais para orientação tinham desaparecido completamente e dava-se aquilo a que se chamava, “a bebedeira na floresta”…ficávamos desorientados… isto aplicava-se basicamente às armadilhas espalhadas um pouco por todo o lado e que às vezes, davam trabalho a  encontrar – era mau para todos, mas raras vezes isso aconteceu e que se saiba, quando havia rotatividade na tropa, as armadilhas eram todas desativadas…coisa que não aconteceu na guerra civil angolana e que ainda hoje provocam aos civis danos irreparáveis...


...uma foto para a posteridade - um dos "inimigos" aderiu à causa portuguesa...

A estratégia, para passar entre os "pingos da sorte", sempre foi a caixa duma berliet e o abrigo que construía com a carga, farinha, caixas isotérmicas, prometiam uma defesa, mas...

A estratégia que delineei para passar entre os “pingos da sorte” nas muitas dezenas de reabastecimentos (milhares de km), que realizei, foi de certo modo eficaz, porque nunca foi testado – a caixa da “berliet” e o nicho no meio da carga (farinha, caixas isotérmicas, etc.) eram o meu resguardo e como este tipo de viaturas eram de eixo alto, podia olhar para todos os lados – na época das chuvas a paisagem era um regalo, no tempo seco o danado do pó que escondia tudo, inclusive deixávamos de nos ver uns aos outros, era um obstáculo muito difícil de ultrapassar…visto hoje, esse pó, que era uma nuvem que não deixava ver nada, era a camuflagem perfeita para o inimigo não poder com precisão fazer as "esperas" para desencadear emboscadas...o terrível pó, em vez de ser um obstáculo terrível, como pensávamos na altura, foi com certeza um aliado importante que nos protegeu certamente dalgumas tentativas perigosas do inimigo que esperava sempre uma oportunidade ...quando chegávamos ao destino só se viam os olhos...

O Cabeço do Tope pertencia à barreira estratégica que dificultava a passagem ao inimigo ao longo da fronteira com o Congo ( Nóqui, Cabeço da Velha, Cabeço do Tope e M´Pala)…o Tope e o Cabeço da Velha, eram locais perigosos, por permitir em caso de ataque, uma fuga segura ao inimigo, que estava muito perto da fronteira com o Congo...o truque era atacar, destabilizar, matar e fugir…não resultou com a 771, mas infelizmente para muitos outros alcançou o objetivo de matar, estropiar e baixar a moral da tropa...


Havia no Tope um descampado propositado para permitir avistamento sem obstáculos e que servia para jogar futebol…aqui eram mesmo 11 contra 11…o Cunha um sargento veterano (falecido) levou uma bolada nos testículos e teve de ser evacuado para Luanda…perdeu um…o memorial era normal, cada Companhia que passava,  queria atingir a posteridade...


…calor abrasador e o rio Lué que passava perto… o tal que fornecia água para consumo da tropa (higiene e cozinha) permitia também um recreio ao Ribeiro enfermeiro, ao Primeiro Sargento Hipólito, ao Esteves transmissões, ao Oliveira e ao vagomestre… havia cobras de água inofensivas...embora estivéssemos protegidos pelo quartel 100 metros acima, a ingenuidade era tal, que, se houvesse um ataque morríamos todos...



...nesta foto aparece o Furriel Araújo( em cima o 2º) e claro o Lisboa estava sempre presente...

A Companhia de Caçadores 771 tinha um secretariado administrativo composto pelo 1º Sargento  e pelo Virgílio e este último não estava referenciado  no blogue - por acaso encontrei no molhe sul na Barra, Ílhavo o Virgílio e assim se acrescente mais um interveniente na saga da Guerra Colonial no período de 1965/1967.


No deambular estratégico da 771, do Cabeço do Tope a Nóqui, aparece O LUFICO, um quartel isolado, sinistro, sem apoios e isso eram más notícias…os veteranos contavam histórias de arrepiar... o sargento Cunha, o sargento Morais e um outro que não recordo o nome, era da Figueira da Foz e parece-me que chamado Gonçalves , já tinham andado por estes lados noutras campanhas e falavam de ataques com minas onde nos buracos produzidos pela explosão cabia uma berliet...a UPA sempre andou por estes lados e quando atacava fazia moça na tropa portuguesa...

De Nóqui para o Lufico, uma área sinistra e alinhada com a mata cerrada e com reabastecimento no Tomboco que era das coisas mais perigosas que esta campanha tinha de enfrentar, era o cenário…diziam que os mangais à roda do quartel estavam armadilhados…as histórias que se contavam eram de arrepiar e embora soubéssemos que o MPLA e a UPA, esta última, imbuída de  instintos de violência primária e que não olhavam a meios para atingir os fins, eram referências perigosas na zona - lembro que e pela primeira vez, alguns combatentes arranjaram maneiras de se safarem dos reabastecimentos e alguns nunca saíram da base - sem criticas, penso, que eles perceberam que corriam um risco enorme numa zona  de  má fama  e porque podiam, defenderam-se...

… O aquartelamento no Lufico estava rodeado de mata cerrada…e metia respeito à tropa, que não gostava nada que lhe tapassem a visão…só à catanada se entrava na mata e que me lembre ninguém tentou fazer isso para apanhar fruta…por estas alturas e que passaram despercebidas, estavam ativos muitos guerrilheiros perigosos na área do Lufico, sendo os da UPA os mais sanguinários, visto que escolhiam métodos que desrespeitavam as Convenções Internacionais e horrorizavam quem teve a infelicidade de os encontrar no caminho...por vezes as respostas da tropa portuguesa também não foram proporcionais, mas o "pânico" gera vingança...


A fazenda a servir de base, tinha uma pequena área limpa (a pista de aviação) que permitia alcançar uns metros de visibilidade... com o cenário que tínhamos na frente dos olhos e dos ouvidos,  sabíamos que a perigosidade crescente era uma tátitca da estratégia de guerra e os veteranos, para chegar ao "Puto" incólumes,  tinham de estar preparados para escapar nos próximos  meses... éramos todos veteranos naquela fase...sabíamos que aquilo que tínhamos na frente não era para brincadeiras e tínhamos razão...

O Quartel, uma antiga grande fazenda colonial, embora possuísse alguns edifícios em alvenaria, estava numa perfeita ruína e era uma perfeita desgraça – estava tudo "em cacos" e pareceu-me que a tropa que por lá passou não fez melhorias como fez noutros lados – era uma desolação completa e embora o quartel estivesse bem localizado para o efeito tampão, não seduzia a tropa para fazer melhorias – o que estava, continuou e a nossa vida passou a estar em primeiro lugar – chegar ao “ Puto” era a aposta…alguns dos nossos operacionais talvez não tenham equacionado  o "buraco" onde todos caímos e penso até que esta campanha nesta área, poderia ter tido um outro fim bem mais doloroso, se tivesse havido desorganização e desconcentração... felizmente nada disso aconteceu...
...mais tarde viemos a saber que o Batalhão 2832 à qual pertencia a Companhia de Caçadores 2306 teria sido colocada no Lufico em 1968 (um ano depois de lá termos estado) e sofreu as consequências dum interregno sem emboscadas fatídicas... num dia entre outros e a quando do reabastecimento ao Tomboco e que era protegido por um pelotão ( 40 homens) da Companhia 2306,  aconteceu uma emboscada, que colocou na zona de morte uma Berliet, onde por sinal estava um combatente que também achava que a caixa de carga repleta de géneros, era um bom refúgio - verificou-se que não era -  por ter caído na zona de morte e ter ficado isolada das outras viaturas que não pararam e tendo ficado entregue à sua sorte, foi morto à catanada - deceparam-lhe os braços e deixaram-no nu no meio da picada - foi a primeira baixa desta Companhia... a Berliet que normalmente transportava os víveres, posicionava-se entre Unimogues que estavam equipados com o pessoal que fazia a escolta à coluna e fora o condutor e um ou outro combatente que escolhia ir na caixa de carga, a viatura ficava entregue à sua sorte... a velocidade e o pó eram de tal envergadura que por vezes a estratégia da coluna era um pouco anárquica e não raras vezes a Berliet era deixada para trás... muitos condutores para evitar o pó que levantava uma nuvem que não deixava ver 5,10 metros, afrouxavam e isso era uma tática perigosíssima, porque sem darem por isso, tornavam-se no principal alvo do ataque inimigo...o pó da picada e ao contrario do que se pensava, era uma cortina protetora que escondia a marcha das viaturas, tornando-se num escudo que não dava possibilidade ao inimigo para desencadear o ataque, quer de assalto à zona de morte, quer o flagelar a coluna com morteiradas, bazucas ou mesmo com armas ligeiras...
Mais tarde e depois de alguns reabastecimentos sem problemas, voltou a acontecer outra emboscada na ida do quartel para o Tomboco - depois duma lomba que não deixava ver a continuação da picada,  foram surpreendidos com um "turra" que de bazuca em punho, disparou uma granada explosiva quando a primeira viatura alcançou o topo da lomba - o projétil acertou no Unimog  que ficou a barrar a picada e os outros que normalmente se deslocavam em velocidade alta, enfeixaram-se uns nos outros, causando mais tragédia - dos nove que iam no Unimog só um escapou com vida para contar a história - o condutor nem chegou a saltar do veículo tendo ficado carbonizado dentro do habitáculo - a saída deste inferno foi a frieza dum combatente de seu nome Carrilho que conseguiu colocar um morteiro a disparar, calando o inimigo e depois com um sangue frio extraordinário ainda conseguiu alcançar as granadas-foguete e colocar a bazuca em ação - nesta emboscada houve um problema grave que deve ter sido crucial para que o inimigo tivesse o tempo que quis para flagelar as tropas completamente desnorteadas - o soldado da  metralhadora pesada foi a primeira baixa o que silenciou a breda que era crucial para um combate daqueles e o nosso amigo e bravo Carrilho, percebendo o silenciamento da metralhadora, ainda a conseguiu desencravar, mas por fatalidade voltou novamente a avariar - mais tarde e completando um corolário de acidentes fatais esta Companhia de Caçadores 2306, numa ida à água, viu um Unimog virar-se e um soldado ficou com a perna presa pelos tendões debaixo da viatura - o nosso homem que evitou a chacina total e que salvou este soldado aplicando-lhe o respetivo garrote evitando a perda de sangue que seria fatal, parece que foi condecorado... depois do morticínio o inimigo entrou na mata e desapareceu... sempre que estas coisas aconteciam a moral baixava, a guerra endurecia e "a cabeça deixava de raciocinar com clareza"...o Lufico foi um Inferno que a Companhia 771 não sentiu, porque certamente "os Deuses" estiveram do seu lado...mas que o inimigo rondou por perto, hoje não tenho qualquer dúvida...
...os Americanos, os Russos, os Chineses e outros financiaram a campanha dos "guerrilheiros" e isso foi fatal para a soberania portuguesa que não tinha como concorrer...os  americanos apoiaram a UPA, um grupo tribalista sem ideologia que em 1961 espalhou o terror pelo norte de Angola - invadiram as fazendas e depois de amarrar os colonos às árvores, violaram repetidamente as mulheres, assassinaram crianças ás quais cortaram as pernas para fustigarem com essas mesmas pernas os pais amarrados e que por sua vez, foram serrados vivos nas suas próprias instalações -  é certo que estes homens completamente manipulados e a maior parte das vezes drogados usavam na guerrilha simplesmente catanas, canhangulos, mausers, roubadas à tropa e algumas armas de caça que conseguiram roubar aos fazendeiros - a UPA no entanto e apesar de desenvolver todo o seu ódio nos brancos, assassinou indiscriminadamente os Bailundos visto que os considerava a favor dos brancos - os tribunais internacionais nunca julgaram tais crimes, mas deviam-no ter feito incluindo no grupo os coloniais que utilizaram critérios mais ou menos parecidos - gastaram-se com números muito por alto na guerra colonial em Angola muito mais de um trilião de dólares...e a justiça ficou por aplicar...

Não esquecer também que passou por esta área do Lufico um tal guerrilheiro chamado Jonas Japau que ficou na lembrança dos Comandantes como sendo um bluff ou como um guerrilheiro real, que causou muitos problemas ás tropas sediadas à volta do Lufico no ano de 1968 - este e outros perigosos guerrilheiros estavam ativos quando a 771 esteve no Lufico - um outro guerrilheiro famoso chamado  Maneca Paca, dirigente da UPAe que era considerado antropófago deambulou uns anos atrás por estes sítios, causando verdadeiras chacinas - num dia feliz, o coronel Armando Maçanita ( por volta do ano 61) com uma rajada de metralhadora colocou um fim na atividade deste  depravado "herói" inimigo, porque senão estaria ainda ativo em 67 quando a 771 por lá andou - é preciso lembrar que muitos outros guerrilheiros perigosos e que não olhavam a meios para desencadear o terror extremo estavam em atividade nesta área, sendo preciso reconhecer que nesta guerrilha sangrenta, morreram em Angola, nos 13 anos de guerra, mais de 3000 bravos  portugueses, não contando os feridos e desaparecidos, que acreditaram estar a defender a soberania Portuguesa em África...a 771 por uma qualquer determinação, nunca teve um ataque direto ou se viu envolvida em escaramuças, mas que teve o inimigo no seu encalço, hoje ninguém duvida - era da tática e dos manuais  guerrilheiros infligir danos de qualquer tipo às tropas que passavam por locais estratégicos de maneira a amedrontar e a baixar moral - a 771 esteve na mira mas passou pelos " pingos da chuva, secos pelo sol escaldante"...

O Lufico, depois do airoso Tope e do reconfortante Nóqui, era um local de aparência estranha e os indícios aconselhavam “caldos de galinha” – todos adivinhavam ser um local que tinha um historial de mortos e feridos muito assustador no passado e futuro recentes – nas deslocações ao Tomboco para reabastecimento e isso era uma vez por semana, provocava muito stress e angustia e nunca como aqui foi preciso apelar à disciplina e atenção constante…o reabastecimento levava de escolta um pelotão comandado por um alferes miliciano (40 homens) e uma equipa de transmissões e foi aqui que pela primeira vez se notou que alguns combatentes discutiam com veemência a quem competia ou não servir de escudo ao reabastecimento…como disse atrás, nos reabastecimentos, quem estava sempre presente era o vagomestre…reconheço que algumas vezes existiram criticas quanto à alimentação que embora não tivesse sido variada e à farta, quer na qualidade, quer na quantidade, era a possível – havia um orçamento nas mãos do Primeiro Sargento Hipólito Nogueira e nas movimentações com dinheiro era a secretaria que geria – estávamos longe da civilização comercial, a carne estragava-se com facilidade, visto que o frigorífico existente era a petróleo e os únicos alimentos que se aguentavam no “forno angolano”eram as rações de combate, os frangos liofilizados, o bacalhau vindo da Metrópole que também se estragava com muita facilidade, o chouriço Isidoro, a dobrada desidratada, o feijão, as salsichas, as batatas e pouco mais…o pão, vinho, a cerveja e os cigarros americanos, existiam, o resto era um tormento, porque o que estava determinado nas NEPES ( livro de receitas simples e rápidas), não previa as condições limite em que a tropa vivia no Lufico…nunca houve “levantamento de rancho” e duma maneira geral todos entendiam a precariedade transitória da situação, apesar de torcerem muitas vezes o nariz ao rancho – varias vezes aconteceu que estando a carne no frigorífico ou nas caixas isotérmicas no limite, com o gelo a acabar, se preparava um rancho melhorado, sabendo-se que nos dias a seguir o que safava era o vinho, o pão, o feijão e a dobrada desidratada – nunca que me lembre no Lufico se fez uma tentativa de apanhar fruta, onde existiam mangueiras, porque falava-se em fruta armadilhada e a rapaziada “cortava-se” nestas incursões, que no Tope e Nóqui eram diárias – em Nóqui e Cabeço do Tope não existiram problemas com a alimentação porque estávamos muito perto da Intendência e dos civis e os problemas eram completamente diferentes do Lufico que estava isolado de tudo e todos – a única via para comunicação com os outros era através do reabastecimento e da via rádio que em determinadas alturas prestou serviços relevantes à Companhia – as comunicações cifradas e que davam instruções ao Comandante do destacamento eram vitais e sem elas teríamos tido uma vida mais incerta e com certeza muito menos segura... na coluna ia sempre um operacional das comunicações...
Um dia, existiu um episódio interessante e que foi, quando se iam abrindo os pipos do vinho, estes estavam cheios de água…o vinho tinha desaparecido – aqui o caso deu mais nas vistas, mas no Tope já tinha acontecido uma coisa parecida …o cozinheiro, um cabo do rancho ( salvo o erro Domingos ou se calhar Pinheiro) era um profissional a tempo inteiro, que fazia o que podia e era conhecido por Caldas, suponho que nascido nas Caldas da Rainha e que por uma mensagem que me enviou vim a saber que está algures na Alemanha…para ele um grande abraço e sem ele não teria sido possível atingir o objetivo de “alimentar” diariamente mais ou menos 165 militares, que apesar de tudo devoravam o que aprecia no rancho…o sargento Cunha ( falecido) um dia, apanhou um gato meio selvagem que se transformou num petisco bem bom e desse modo fugiu-se da rotina da dobrada e do frango...

...aqui em posição de defesa...( Cart. 1725)
...aqui a rapaziada (Cart.1725) facilitava e uma granada atirada para o meio deles produziria um morticínio...eram estas descontrações que por vezes faziam com que os "turras", que sabendo dos procedimentos sempre iguais, aproveitassem para atacar...

Todos sabíamos, antes e depois dos reabastecimentos, que o Lufico, tinha fama e o proveito de ser um local perigoso, porque as histórias que se ouviam eram todas de arrepiar – o Lufico descia na linha de proteção à fronteira com o Congo, descaindo para a área que envolvia e protegia Luanda - estava localizado a mais ou menos 300 km de Luanda e quem chegava lá, tinha mesmo que se cuidar e colocar todas as forças de resistência ao serviço – todos intensificaram os treinos com fogo real e os cuidados nas deslocações passaram a ser mais trabalhados e a ter outras estratégias de defesa e ataque – nesta zona foi entregue mais um jipe com uma metralhadora pesada (não lembro o nome, talvez MG ou Brown) além da breda que já estava ao serviço – eram armas que se colocadas rapidamente em ação e atendendo à cadência de fogo, interrompiam a surpresa da emboscada e isso obrigava o inimigo a debandar - este reforço no armamento provocava outra estratégia nas colunas e isso forneceu confiança aos militares, porque todos sabíamos que duas metralhadoras do calibre destas, montadas em jipe/jipão com blindagem de proteção ao artilheiro( por vezes esta blindagem não existia e era substituída pelo peito do veterano) e ainda colocadas na coluna de maneira a não caírem na zona de morte as duas ao mesmo tempo, eram um desafio que o inimigo não poderia nunca menosprezar, a não ser que estivesse drogado – na primeira deslocação para reabastecimento ao Tomboco, além do fogo real com armas ligeiras, experimentou-se pela primeira vez a bazuca – quando a granada explodiu todos verificamos que esta arma, se colocada ao serviço numa emboscada ocasionaria muito dano nas hostes inimigas – esta arma tinha um grande defeito que era ter o atirador e o municiador o que implicava tempo e isso era fatal, por isso e embora aceite, representava também uma  dificuldade de manuseamento – também pela primeira vez foram experimentados morteiros 60, de curto alcance o que foi um sucesso, mas o peso decretou dificuldades deste equipamento quanto ao peso e quanto ao número de granadas a transportar em caso de ataque – a primeira regra em caso de ataque era o salto para as bermas da picada e abandonar as viaturas o que dificultava a manobra se existissem armas muito pesadas para transportar...os soldados em linha nos unimogues estavam de peito feito às balas e num primeiro impulso de defesa não podiam transportar muito peso, daí que estas armas mais pesadas ficassem na viatura e depois para as alcançar eram precisos atos de heroicidade e que mesmo assim poderia ser impossível lá chegar se a barreira de fogo do inimigo fosse verdadeiramente impossível de ultrapassar...os "caçadores" preferiam granadas defensivas presas no cinto, 2 ou 4 e depois  as  FN e as G3, espingardas automáticas fiáveis, completavam o arsenal de defesa...a reação à emboscada era a principal resposta para minimizar a surpresa do ataque - saltar da viatura, procurar proteção, reagir contra o inimigo com barragem intensa de granadas e fogo e sendo auxiliados pelas metralhadoras instaladas nos jipes eram os ingredientes para atenuar a surpresa numa primeira fase - depois e se houvesse possibilidade, os combatentes que ficavam fora da Zona de Morte teriam de fazer o envolvimento ao inimigo o que os desacelerava, colocando-os em fuga e deixando a tropa respirar...

...depois de tudo estar mais ou menos pensado a coluna iniciou a marcha – o Tomboco que distava uns bons quilómetros do Lufico (salvo o erro mais ou menos 200km, que atendendo à falta de qualidade das picadas era muito quilómetro) era servido por uma picada tortuosa e acidentada, com diversas elevações perigosas e rentes à picada o que dava muita vantagem aos " turras" num ataque - os portugueses no meio deles, éramos catalogados de "tugas", aliás no Brasil fazem a mesma associação – todos os locais perigosos, quer com curvas pronunciadas, quer com elevações do terreno com pouca visibilidade, ou locais com densidade vegetal, eram percorridos a pé, com as viaturas paradas a 200 metros do possível local de perigo – as duas metralhadoras pesadas instaladas nos jipes davam uma sensação de grandeza tal, que alguns comandantes de Pelotão, passaram a dar ordens para se dar somente uma ou duas rajadas e parar - a cadência do tiro era de tal forma impressionante, que, se nos assustava a nós, a moça que não deveria fazer ao inimigo…no entanto o inimigo só precisava de saber que tínhamos o equipamento pronto – estas metralhadoras foram um salvo conduto extremamente eficaz para passarmos bem a operação Lufico sem baixas - as duas metralhadoras a "varrer", uma de cada lado da picada dava uma sensação de poder que só visto – viemos a saber mais tarde que o inimigo tinha preparada uma emboscada num local onde passamos dezenas de vezes e nalguns casos não se fizeram as batidas às zonas perigosas como de costume – para tirar teimas, fez-se uma vistoria minuciosa ao local e de facto para além dos abrigos no capim onde estiveram camuflados, ainda existiam latas de conserva e indícios recentes de fogueira – o maior perigo era a confiança estar em alta artificialmente e isso quando acontecia provocava mal estar e quase por instinto todos percebiam que algo poderia correr mal…o destino é uma coisa que marca os portugueses e isso não é bem vindo numa guerra onde a surpresa é um fator decisivo para sobreviver ou morrer…tudo tem de ser equacionado de acordo com padrões racionais e não havendo esta predisposição a falta de estratégia ocasiona mais perigo ao que já existe…felizmente a 771 com os pés bem assentes no chão, percorreu sempre o caminho da segurança, prevendo com antecedência os acontecimentos - o inimigo deve ter interiorizado que com a  Companhia 771, um ataque teria resposta…ainda bem que nada aconteceu...






Esta arma, uma breda estava montada num jipe/jipão com uma
proteção em aço( por vezes e para facilitar a proteção era o próprio peito do combatente) -  para o atirador e que fazia as delícias da tropa quando se ouvia a cadência de tiro era uma espada afiada, visto que na emboscada, este era dos primeiros elementos a ser abatido, assim como todos os condutores que em caso de ataque eram os alvos a abater na medida em que obrigavam a coluna a cair na zona de morte -  procurei uma foto original com a metralhadora montada no tripé e não a encontrei, por isso socorri-me destas fotos de arquivo  - ( depois de alguma pesquisa consegui obter fotos do Zé da Breda e do Zé Martelo certamente alcunhas que ilustram o que acabei de mencionar)...

No Lufico…a PIDE fazia um trabalho excecional…dava detalhes sobre deslocações dos guerrilheiros, a maior parte deles obtidos em Matadi…quando havia informação de que poderia estar no caminho uma possibilidade de emboscada e os sítios eram muitos onde isso poderia acontecer, a tropa destacada, ficava com os “nervos à flor da pele” e a viagem, com quezílias por vezes constantes, tornava-se num pequeno nervoso miudinho que se notava no semblante dos combatentes que naquele momento poderiam estar na mira dos guerrilheiros angolanos…normalmente os comandantes de pelotão recebiam estas informações mas não as transmitiam ao pessoal para evitar o nervoso miudinho, mas a coisa acabava sempre por se saber e isso era relevante porque colocava a tropa em alerta máximo... e isso era bom...

Depois de muitos reabastecimentos ao Tomboco, num determinado dia que não preciso e no retorno ao aquartelamento, a PIDE informou que havia movimentações no caminho e que era preciso estar atento – com a má notícia todos ficamos tensos – como sempre procurei a caixa duma berliet que era a penúltima da coluna, protegida por um unimogue na retaguarda – como ia carregada de sacos de farinha, foi fácil fazer um encaixe com os sacos e fazer um esconderijo – coloquei as caixas isotérmicas (duas) a proteger o abrigo improvisado e porque a camaradagem era do mais fino que existia e estando eu numa posição neutral visto ser o vagomestre e não ter nenhuma ação estratégica definida no pelotão, distribui pelos rapazes uma série de cucas que, acalmou o calor abrasador que se fazia sentir – as isotérmicas iam carregadas de carne e com o gelo que se derretia a olhos vistos não deviam ser abertas durante o caminho, porque isso era o primeiro passo para estragar a carne – atendendo à situação anormal que se passava na coluna, tomei nota de que este reabastecimento iria ser um completo caos e facilitei na distribuição de cerveja a quem pedia…pediam todos e a "Cuca e a Nocal", bem fresquinhas davam outra força para enfrentar o perigo – quando a coluna se colocou em marcha, um certo frenesim apoderou-se do condutor da primeira viatura, aquela que serviria para aguentar o impacto de qualquer mina colocada na picada ( o que defenia a zona de morte pensada pelo inimigo) e pautava a velocidade da movimentação, carregando no acelerador o que em princípio era uma boa tática – o pó da picada ressequido pela seca apareceu em força logo no início e o condutor que "comandava" a coluna, tocado pelo nervoso da notícia, imprimiu uma velocidade de marcha um pouca nervosa o que imediatamente senti no cimo da berlier, quando apareceram a primeiras curvas – numa delas e à qual estava atento por ser a primeira, o condutor saiu da picada e foi em frente, por sorte encarreirou e a viagem continuou com o condutor a carregar no pedal do acelerador – nesta coluna o stress, o medo ou lá o que era, dominava e notava-se que algo não estava a correr como de costume…disseram-me que alguns rapazes, tinham tirado a cavilha ás granadas defensivas e estavam prontos a laçá-las se houvesse novidade - isto era uma faca de dois gumes, porque qualquer contratempo poderia desencadear um perigo incontrolável, mas, visto isto por outro prisma, representava na prática uma segurança quanto à determinação que aqueles homens estavam possuídos para contra-atacar - sabia-se que uma emboscada, quando bem montada era mortal, mas também se sabia que uma reação rápida de envolvimento, respondendo com as metralhadoras pesadas a  varrer o cenário, colocando em ação o lançamento lesto de granadas, morteiradas e bazucadas, e fazer o cerco ao inimigo com os soldados que não tinham caído na zona de morte, por vezes desarmavam a operacionalidade do inimigo que não esperaria uma tal reação defensiva por parte da tropa... a lentidão na reação e a surpresa da emboscada, são fatores que determinam quem vive e quem morre e a opção dos soldados libertando a cavilha da granada era um bom indício de reação...estavam tensos e isso era bom...



Este é um esquema de emboscada entre muitos outros, mas que é variável de acordo com a situação do terreno e oportunidade da ação...uma emboscada com mortes ou estropiados era uma desgraça para a moral e o pânico entrava em jogo...com fogo cruzado, uma das especialidades do inimigo, o pânico gerava-se num instante e às tantas estavam todos por conta própria...os verdadeiros heróis, aqueles que percebem num golpe de vista a saída para fugir ao fogo cruzado e outros "mimos" como sejam as bermas armadilhadas com minas saltadoras ou explosivas para infligir o máximo de baixas, são homens excecionais e que mereceriam por parte de quem comanda, um reconhecimento vitalício com moldura pecuniária - atos de bravura em combate que salvaram companheiros são factos de heroicidade que têm de ser reconhecidos e infelizmente e para além dumas medalhas de latão e duns louvores escritos em papel pardo, nada se faz, nada de substantivo se atribui a quem arriscou a vida...

No Lufico os reabastecimentos ao Tomboco eram sempre um desafio constante ao perigo e a tropa sabia disso e tentava evitá-lo…houve camaradas nesta Companhia 771 que durante a estadia, só saíram do aquartelamento quando foram deslocados para Ambrizete - não se trata dum crítica mas da contestação dum facto que é necessário realçar - cada um por si pensava em chegar são e salvo ao “Puto”, não arriscando e isso é uma opção que desde que seja possível é de louvar…o Capitão da Companhia raramente saia do quartel, bem como outros que pouco interessa agora lembrar...

Nestas deslocações o pó que as viaturas levantavam era uma coisa só vista – nunca cheguei a perceber muito bem como é que os condutores dos carros se orientavam sem sair da picada e sem ocasionarem acidentes graves – sabia-se que o primeiro tiro era destinado aos condutores e talvez por isso estes homens extraordinários e a quem se deve muito do sucesso alcançado pela 771, conduziam os carros pesados com uma perícia fora do comum – a visão dentro da coluna era de 5/10 metros em relação ao carro da frente e com os óculos encharcados em poeira preta, não se via nada ou via-se muito pouco para além da viatura que ia à frente – o carro de trás normalmente nem se via e um certo instinto assumia o comando – a poeira, como um nevoeiro cerrado dominava e assustava os soldados que nunca tinham visto nada daquilo, mas sem eles darem por isso, protegia-os dos franco atirados colocados em locais estratégicos  – ninguém podia ficar para trás, porque isso era essencial para que nenhuma viatura ficasse isolada da coluna – “um por todos e todos por um” era o lema – no percurso para a base, mais ou menos a meio caminho, havia uma garganta altíssima, com um buraco onde cabia uma “berliet” e que tinha produzido em tempos muitas mortes e como era natural todas as viaturas se imobilizavam a uns 200 metros do perigoso local – ouvia-se murmurar entre dentes: - os sacanas “aqui não me apanham” – a rapaziada, embora não gostasse deste exercício preventivo, já que os colocava como alvos, contrafeitos avançaram para as bermas, subiam as ravinas e faziam a verificação do costume, certificando-se se no topo dos montes havia algum indício de movimento – as metralhadoras uma de cada lado, tomavam posição e depois da ordem puxavam a culatra atrás, apertavam o gatilho e varriam o terreno – o medo era tanto que por vezes o dedo do gatilho ficava colado e era preciso o alferes dar a ordem de "chega"  para que o "cantar parasse"– era um matraquear que levantava a moral dum morto, já que depois de ouvir o matraquear sincronizado todos sabiam que naquele local era muito difícil haver alguém emboscado e preparado para atacar – as viaturas ficaram para trás e só avançaram quando os soldados apeados ultrapassaram a perigosa garganta e o comandante da coluna dava ordens para avançar – o local foi ultrapassado sem incidentes – fora da garganta, todos puxaram pelos cigarros e todos entravam para as viaturas – eu continuava refastelado no nicho de carga da berliet, estando posicionado para o que desse e viesse, apesar de saber e reconhecer a minha falta de preparação para a estratégia que estava definida – como vagomestre e em caso de ataque, estava protegido mas também estava por minha conta…

...uma parte do 4º pelotão - o terceiro em pé da direita é o Alferes Pranto...


...o 1º cabo Leonel ( falecido) e o Tavares...
... o Maciel e os furriéis Araújo, Aguiar e....

Depois desta passagem perigosa, não preciso bem, a distância que foi percorrida, mas não teriam sido muitos Km, quando de repente a viatura onde eu ia desacelerou, o pendura saltou da janela para o chão, sem abrir a porta, o condutor "atirou" a berliet para a  berma e desenrolou-se um cenário que nunca tinha visto – o unimogue que vinha atrás e que fechava a coluna e talvez porque a velocidade não lhe permitia parar a tempo, ultrapassou-nos em grande velocidade desaparecendo da vista – o soldado que saltou pela janela levava a G3 bem agarrada, subiu o talude em décimas de segundo e num instante descarregou todos os carregadores a varrer o horizonte que era muito curto, atendendo ao terreno bastante acidentado que tinha na frente – o condutor também entrou em pânico e fez o mesmo do outro lado da picada – eu continuava no nicho e embora tivesse distribuídas duas granadas defensivas e tivesse a USI com a culatra acionada e uma bala na câmara, estava sem reação – face aos elementos presentes, três comigo, pensei rapidamente que, se, se estivesse a desenrolar um ataque, o melhor era ficar onde estava – depois, percebi que pensei mal, porque estávamos completamente sozinhos na picada, os outros, não deram ou fizeram de conta que não deram por nada continuando a marcha e desgraçadamente a farinha não evitaria o impacto das balas quanto mais duma granada lançada para dentro da caixa – não me apercebi do perigo de ter ficado, mas raciocinei rapidamente e visto não ter ouvido nenhum tiro nem rebentamento, só podia haver um equivoco – o condutor estava lívido encostado ao morro que não conseguiu subir, mas tinha os carregadores vazios no chão – o outro que tinha subido o morro estava deitado no meio do capim e como verifiquei imediatamente estava também desarmado – em míseros segundos tinha despachado 5 ou 6 carregadores cada um, varrendo o capim – dominado pelo pânico a titubear o combatente que subiu o talude íngreme disse com voz sumida que uma bala lhe tinha passado rente à cabeça…apesar de saber que a 771 se preparava sempre para os reabastecimentos, percebi, que se algum dia tivéssemos de enfrentar uma emboscada, teria de haver muita sorte para sair dela vivo...perante o pânico os homens atuam empurrados pelo medo e só alguns mantêm o sangue frio e são eles que resolvem...por esta amostra, fiquei a perceber com clareza o destino certo de quem cai numa emboscada bem feita...o sangue frio, a sorte, a rapidez para reagir são fatores que no cenário da surpresa, podem ajudar a contra atacar se a zona de morte não abarcar todas as viaturas...

No Lufico os reabastecimentos ocasionavam uma das muitas causas que originavam perigo para os combatentes em campanha…o Tomboco ficava muito longe e a picada única era de traçado propício ao ataque e os soldados entravam frequentemente num nervoso miudinho que não controlavam…
– Perguntei ao condutor que tinha abandonada a viatura, se tinha visto ou ouvido alguma coisa, respondeu que tinha visto o salto do colega pela janela e pensou ter havido ataque – isto era, neste momento estávamos isolados, entregues à nossa sorte e não tínhamos capacidade para reagir ao que quer que fosse, apesar de estar bem consciente do perigo que se corria – mantive a calma e mandei, porque era o único graduado, que eles subissem o talude para ver se havia alguma coisa que pudesse indicar perigo - subiram novamente o talude que circundava a viatura e bem a custo lá fizeram  a inspeção (estavam desarmados) não tendo visto nada de anormal – não me lembro do nome do condutor, mas sei que ele fez uma corrida fantástica  na ordem dos 100km hora e nunca se despistou, coisa que eu pensava que àquela velocidade iria acontecer - fizemos todo o percurso sozinhos e por sorte ou audácia o inimigo, ou estava ausente ou não teve oportunidade – na chegada ao acampamento fez-se a respetiva participação ao comandante da companhia que por sua vez a fez chegar ao coronel Milreu, comandante do Batalhão 774 – porque e depois do inquérito não se chegou a nenhuma conclusão todos levaram uma reprimenda ligeira – este acontecimento, embora esporádico, porque não se repetia, evidenciava a enorme pressão a que todos estavam sujeitos – estas evidências expõem com clareza os traumas do pós guerra, mesmo sem mortes ou acidentes graves… ninguém depois de ter acabada a guerra, quis analisar os traumas psicológicos a que estes homens estiveram expostos, compensando-os do trauma da guerrilha, que embora nunca tivesse acontecido na 771 - parece que dão uma gorjeta anual de 100,00€ ano aos combatentes que estiveram em zonas de guerra!!!...é uma vergonha...

... isto é a picada que ligava o Lufico ao Tomboco para reabastecimento - os rodados construíam o caminho... era neste cenário, com as bermas armadilhadas, que por vezes acontecia a emboscada, que normalmente provocava a diferença entre a vida e a morte...











1 - Um reabastecimento em marcha para o Lufico; 2 - a coluna a preparar-se para se movimentar 3 - camaradas do mesmo ofício 4 - a placa do Lufico bem escrita 5 - a casa arruinada que servia de padaria 6 - a pista de aviação em terra batida, que era a melhor coisa que o Lufico tinha...

Existia no Lufico, uma pequena pista que permitia aos aviões entregarem correio e frescos (atiravam-nos sem aterrar) e se houvesse necessidade poderiam ser evacuados doentes ou feridos para o Hospital Militar em Luanda… pelo menos isto era uma boa notícia…nunca foi preciso utilizar a pista para evacuar feridos, mas, hoje, estou convencido que com uma mata cerrada à volta do quartel, seria uma operação muito arriscada - o inimigo tinha armas ligeiras, não tinha mobilidade fácil e também não tinha armas terra-ar e isso era uma fraqueza que beneficiava a tropa portuguesa no terreno...



... um rancho "melhorado" e o Lisboa na primeira linha...adivinho neste rancho melhorado, frango liofilizado, dobrada desidratada, muito feijão, algum arroz, uma cucas, uns copos de vinho e se calhar muita juventude e muito  boa disposição...

A Visita do comandante do Batalhão, Tenente-coronel Milreu no Lufico…finalmente vimos um comandante no mato... ou nem vimos bem, porque ele se reuniu à porta fechada com o Comandante da Companhia e pouco mais - é certo que sabíamos que se o inimigo "liquidasse" um chefe militar importante, isso era uma verdadeira hecatombe e o caso seria aproveitado para desanimar a moral, daí o recato estratégico...

Passados alguns meses de estadia no Lufico, o comandante do Batalhão, Tenente-coronel Milreu, deslocou-se um dia em helicóptero para dar, dizia-se uma novidade…

Com a notícia da visita todos quiseram ver o helicóptero chegar…mas este esgueirou-se de tal maneira que quase ninguém o viu - eu deveria estar no reabastecimento no Tomboco...

A notícia era que no Cabeço da Velha e na rendição, os novos maçaricos, parece que não terão tomada as devidas precauções e o inimigo, sempre à espreita duma oportunidade, fez a emboscada e apanhou num ataque relâmpago 16 almas, que foram esquartejados à catanada - certamente a UPA que cometeu atrocidades barbaras nos combates, terá com certeza o seu carimbo de ferocidade exagerada - neste local a 771 passou muitas dezenas de vezes para reabastecimento a Nóqui – existe um embondeiro que assinala a emboscada fatal e que causou a morte  de mais de dezena e meia de jovens – por vezes, os veteranos chamavam por puro gozo a quem chegava (maçaricos) e com fanfarronada escusada afirmavam aos sete ventos que por ali "os turras" não passavam - este tipo de conduta era um presente envenenado que por vezes dava maus resultados...quem estava prevenido e atento normalmente não era atacado...e os "turras" deliravam com os " maçaricos" acabadinhos de chegar à cratera da guerra colonial...estes, ainda com carinha de "leite", não sabiam da figura do cacimbado, não sabiam que lhe chamavam " maçaricos" que poderiam acabar enterrados no profuso capim angolano, de muletas num qualquer hospital militar  e  estavam longe de saber o que eram os veteranos e nem sabiam que  durante 24 meses não dormiriam numa cama decente nem comeriam as iguarias do "Puto" do qual iriam ter muitas saudades...

O Tenente-coronel Milreu e porque sabia que o local era dos mais perigosos, também trazia de viva voz outra noticia e essa era mesmo importantíssima para a Companhia – íamos ser deslocados mais para baixo para o litoral – Ambrizete banhada pelo Oceano Atlântico, uma cidade à beira mar plantada, como Ílhavo, dando a esperança de chegarmos vivos ao " Puto" - era um local de guarida do inimigo que se misturava com a população indígena e que normalmente não ocasionava problemas de maior – a PIDE que tratasse disso – assim,a companhia 771 tinha ultrapassado um dos momentos mais perigosos da sua campanha e como era das regras voltávamos a um local mais pacífico e que com certeza nos levaria sãos e salvos de retorno ao “ Puto”…

À esquerda o Capitão António Marques, comandante da comp. 771, ao centro o Comandante do Batalhão 774, Coronel Milreu e à direita o célebre Jardim, dono dum Bar em Nóqui...só com uma fotografia de convívio seria possível  rever estas três personagens juntos - foi o que fiz....

Ambrizete

A estadia em Ambrizete com uma população pequena, com bastante comércio e muito recetiva à tropa, era o local ideal para todos recuperarem do trauma das emboscadas e dos locais perigosos por onde passamos… Ambrizete, com a varanda virada para o Atlântico é um local inesquecível...

...neste oásis, limitávamo-nos a passar o tempo, tentando aprender com os indígenas e num dado momento, tentei perceber a “psico” e o objetivo – era claro – captar a simpatia da população era essencial e muito foi feito nesse sentido, ajudando na construção de novas casas ou acolhendo os mais desprotegidos, facultando-lhe alimentação ou mesmo ajudando na vertente médica dos cuidados primários – nesta localidade os indígenas, embora de natureza muito pobre, tinham autonomia, eram bem tratados pelo poder instituído e não raras vezes davam a ideia de algum conforto como eram tratados, embora se percebesse que havia “ olhares” e “sinais” contraditórios quanto ao que tinham bem escondido no pensamento – os "tugas" tinham de ser corridos de Angola, aliás como estava a acontecer na Guiné, onde os Russos estavam a oferecer armas sofisticadas que desequilibravam a balança para o lado dos guerrilheiros que tinham a gora o poder de abater aviões com mísseis – era evidente que um dia, esses mísseis apareceriam em Angola e sem poder aéreo os portugueses não tinham alternativa, ou abandonavam ou provocavam “um banho de sangue” – em Ambrizete os militares ofereciam o que podiam, o serviço de saúde era prestado a todos os que recorriam a ele e dum modo geral as populações viviam em casas habitáveis e não faltavam os produtos da pesca e o comércio florescia por todos os lados – duma maneira geral e pelo que vi, não notei nada que se parecesse com trabalhos forçados, ou maus tratos infringidos pelos coloniais como se apregoava…não significa isto que não houvesse desaforos e que alguns desmandos não tivessem sido cometidos e também é verdade que o “branco” conduzia o patamar dos negócios e de certo modo vivia acima do patamar da pobreza, o que talvez ajude a explicar que, uns sempre serão menos, do que outros, que por razões de preparação, intuição e meios, serão sempre mais… não é por acaso que a Europa se dedicou aos descobrimentos com bravura, determinação e tendo sempre como alvo, expandir a religião e alcançar benefícios – o contrario nunca foi possível ou se foi, isso nunca foi representativo…"quem pode manda e quem não pode obedece…" - o preto em Angola não chegava ao "poder" e o branco comandava...

Ambrizete, o paraíso e o passaporte para o “Puto”…

Nesta localidade, uma cidade ligada ao mar, o ambiente era dos melhores – os inimigo, embora se soubesse que utilizava a população para se esconder e deslocar, não ofereciam perigo de maior e a tropa convivia sem receios e foi onde pela primeira vez vi uma Sanzala e contactei de perto com a chamada “psico” – normalmente alguns indígenas não gostavam das casas que lhes ofereciam os coloniais e preferiam os seus lugares ancestrais – a “psico”, uma teoria de aproximação à população chegava com calma e de uma maneira geral todos entendiam o que cada um desejava atingir…a chave da psico era, os portugueses são amigos e desejam viver em paz com todos, mas todos sabíamos que um dia Angola iria ser independente...
Depois do fim da guerra colonial e com a chegada da guerra civil, muitos ansiaram pela administração portuguesa, que embora no seu ponto de vista ilegítima, jamais se poderia repetir…quem viu Angola e a vê agora, não em Luanda, mas noutros locais bem mais no interior, nota-se que a vida levou uma volta e depois da partida dos coloniais portugueses, tudo regrediu…o petróleo dá a força que a economia necessita agora, mas amanhã, Angola tem de fazer pela vida, senão voltam outras colonizações bem piores do que a portuguesa e Luanda não é Angola…

A História Portuguesa em África é um facto irreversível e pesem os desencontros, um dia, todos chegarão à conclusão que sem as fronteiras imensas que os portugueses deixaram, Angola, não existiria…

Ambrizete, um paraíso e o passaporte para o “Puto”…nota-se na foto que as casas que ladeavam a estrada eram habitadas pela população local e embora sejam de construção simples, correspondiam aos anseios da população…

As três primeiras e a quinta  fotografias dão uma ideia da vida em Ambrizete; a quarta revela que os portugueses interagem bem com os jovens; a quinta expõe um pequeno acidente, certamente uma pedra...

Em Ambrizete chegamos ao "paraíso africano" e fizemos de tudo para passar o tempo...


...em cima um reabastecimento e em baixo um transporte civil com escolta militar...sem escolta eram chacinados...

Em Ambrizete e a quando da transferência da tropa para o “Puto”, eu tinha recebido todo o material de campanha existente – fez-se um inventário do material, os dois vagomestres assinaram, entregou-se o manifesto na secretaria ao Primeiro Sargento e o caso ficou resolvido – só que o vagomestre que me passou o testemunho e para se safar da tropelia que lhe fizeram, tinha de me enganar também, porque senão estaria com um processo ás costas e que o impediria de embarcar – na entrega, as coisas foram um bocadito tocadas por conversas variadas de maneira a preparar-me para o logro e eu ingenuamente embarquei na conversa - só que a minha experiência nesta área era pouca porque em Nóqui, Tope e Lufico não existia nenhum material de cozinha para entregar - aqui, havia um fogão de campanha a lenha que era de dimensões descomunais (5m2) e com utensílios de todo o tipo, que nem percebi para que é que serviam -  assinamos os papeis e o vagomestre desapareceu da minha vista – no outro dia e para verificar melhor o que tinha recebido, fui direito ao fogão, que era o objeto mais valioso  que existia no acampamento e vi que este se tinha desmoronado – estava caído no chão – fui ao armazém onde ele tinha dito que estavam os utensílios de cozinha que eu tinha visto e não havia nada…quer dizer o equipamento que me foi entregue estava preso por arames e o inventário não correspondia ao que realmente existia no terreno - era tudo ferro velho e foi transferido como se fosse material de primeira qualidade – verifiquei que estava em maus lençóis, aguentei firme e quando foi feita a rotação para Luanda, delineei um processo para me safar a mim e à Companhia – mandei colocar o que estava por terra num armazém ao fundo do acampamento - o vagomestre que vinha do Lufico, farto de guerra, apareceu para receber o material e eu expliquei-lhe com o ar mais cândido do mundo, que o material estava todo no armazém dos  fundos e apontei com o dedo – é pá, olha aquilo que existe está naquele armazém e é só assinares o inventário que está tudo em bom estado -  o ”camarada de luta”, vinha das terras de ninguém  e se calhar mais cansado do que nós, que tínhamos o "Puto" à vista e com o ar mais natural, assinou sem ver nada e não pediu a segunda via - apertamos as mãos e a coisa resolveu-se…na tropa, o último a chegar é que fecha a porta e foi o que aconteceu quanto ao célebre fogão de campanha… o vagomestre era do Norte, da Branca e um dia encontrei-o por acaso - perguntei-lhe como é que tinha resolvido o caso do fogão – ele olhou para mim, pensou um instante e disse: - é pá a chatice toda foi que perdi o papel do inventário e o nosso Primeiro Sargento teve de fazer um abate às existências por inoperacionalidade…tudo fácil...







...as duas primeiras fotografias são do 4º pelotão e a 4ª representa um ataque aos transportes civis - os civis tinham de pedir proteção e este convenceu-se que a picada estava limpa e enganou-se...

Maciel, o Pelotão nr. ?, o Brilhante e o Aguiar que como se vê estavam contentes pelo regresso ao " Puto"...

Mesmo em cima do final da "campanha da Guerra Colonial" os veteranos da 771, mantinham-se firmes e bem dispostos...e

...a tão ansiada partida para o “ Puto” estava já a acontecer…

Um dia que não preciso, foi-nos dito para preparar as coisas e que o nosso destino no imediato seria mais uma vez o Grafanil com data marcada para o porto de Luanda onde o Vera Cruz estava à espera no porto de Luanda...

A festa foi de arromba e finalmente a guia de marcha tinha sido passada para o Batalhão 774, e a 771, 772 e 773 e a CCS, certamente também elas com a bandeira em arco, apesar de terem havido contratempos como sejam acidentes de todo o tipo, alguns graves, avançaram resolutos sãos e salvos para o embarque que finalmente os levaria ao Portugal Imperial, que se mantinha apesar de tudo firme na defesa daquilo que pensava serem Colónias bem portuguesas - a História veio-nos dizer que Salazar estava enganado, mas ao tempo era o que se pensava....

O Vera Cruz foi um símbolo de resistência, que embora inglória, porque se perdeu o comando, o espírito contínua vivo e muitos portugueses com dupla nacionalidade e mesmo a "salto", estão a voltar a Angola para ajudar a enriquecer um grande País… estou certo se escolherem bem o destino, que não Luanda., talvez mudem a vida para muito melhor - África é um Continente diferente dos outros e quem lá vai uma vez apaixona-se para sempre... veja-se o caso da tropa e dos retornados...choram ainda hoje, quando falam dos locais onde viveram durante uns tempos...e depois são países que falam português e muitos deles " beberam" a nossa cultura...


...depois da campanha  da guerra colonial em Angola, os homens reúnem todos os anos e não esquecem o seu próprio contributo para a História Portuguesa em Angola...


...alguns dos combatentes mortos chegaram a Portugal no porão do Vera Cruz, outros, muitos, ficaram perdidos e esquecidos no capim angolano...o que é uma vergonha para o Estado Português...




...a chegada a Lisboa foi mais triste do que a partida - fomos encaixotados como descartáveis num comboio e com ele chegamos ao  fim da mobilização para a Guerra Colonial em Angola...

Alguns mortos viajaram no porão, já que, os políticos da altura acharam que o transporte de avião era muito caro… é uma pena que isso tenha acontecido e é uma pena que os mortos enterrados no capim não tenham por parte dos políticos, um gesto digno e patriótico, repatriando os seus verdadeiros heróis…os do Panteão em Lisboa, merecem, mas estes que "deram o que tinham", também merecem, porque quer queiram quer não estiveram no local onde se desenrolava a guerra e por isso e apesar da derrota, fazem mesmo parte da Colonização e Descolonização Africana e como tal intervenientes ativos da História Portuguesa...



Conclusão:


Apesar de tudo a vida não para e a vida...  não deixa de ser um grande Carnaval...


No dia 6 de Junho de 1967 o Batalhão 774 onde a Companhia 771 estava incorporada, chegou a Lisboa, depois de cumprida a tarefa que o Governo da altura delineou – não se registaram mortes na 771, salvo alguns feridos por acidente – a Companhia 771, constituída por homens de vários cantos do País cumpriu a sua missão com um profissionalismo extraordinário e merece o respeito de todos – alguns deles ainda comemoram anualmente o aniversário ( 48º Encontro - 06 de Junho de 2015) e isso representa a vontade de perpetuar uma etapa na vida que jamais se esquece…sinto-me honrado por ter estado nesse conjunto e espero com este pequeno apontamento, dar um pequeno contributo aos que ainda rodam na lide desta vida – aos que partiram, quer lá quer cá, a minha saudade e o meu respeito...

Certamente que existiram nessa guerra desmandos duma parte e de outra evitáveis e o imbondeiro perto do Cabeça da Velha e que presta homenagem a soldados portugueses mortos, talvez represente um memorial que ajude a terminar todas as hostilidades entre Portugueses e Angolanos…a História é irreversível e ambos têm de a reconhecer…que uns e outros cumpriram...

Os portugueses mobilizados para combater e preparados psicologicamente para matar o inimigo, cedo chegaram à conclusão entre 1965/1967 que a guerra poderia ser longa, se nada acontecesse em Lisboa, mas sabíamos todos que a independência estava garantida – muito cedo e logo que a 771 tomou contacto com a realidade, os pelotões, quando em operação na mata, faziam tudo para evitar o contacto direto com o inimigo – logo que saiam da picada e entravam na mata, montavam uma estratégia de defesa com sentinelas nos quatro cantos, o comando no centro e logo que o dia alvorecia dirigiam-se para o sossego do quartel – as armadilhas (explosivos) eram levantadas quando havia rotação na tropa e minas, nunca se viram na 771 e de certeza que não encontraram nem uma para amostra – os descuidos, a sobranceria de minimização do inimigo e os reabastecimentos, propiciavam ataques e por vezes a desgraça acontecia com frequência…morreram na flor da vida demasiados combatentes dum lado e de outro...é preciso aprender com os erros...

Os caixotes com restos mortais de portugueses e que chegaram no mesmo navio, traduzem a violência da “guerrilha” e explicam a grandeza das fronteiras que os portugueses “cavaram” em Angola e que para alegria dos Angolanos ainda são as mesmas…Portugal fez o que tinha de fazer e Angola, depois da guerra colonial e duma guerra civil violentíssima e que ainda hoje produz estropiados, só tem que aceitar os factos Históricos que abriram o caminho a mais um País Irmão na diáspora portuguesa…

NOTA: salvo algumas, falhas de memória e estando aberto a correções, a prosa é aquela que o meu ponto de vista considera correta, consoante o “feed back” que me chegar – as fotografias têm direitos de autor – na caso de pretender alguma, envie o pedido para alvaro.ramos@netvisao.pt e terei enorme prazer em conceder-lha.

álvaro ramos – furriel miliciano, vagomestre da comp. 771 e que efetuou todos ( se falhei foi um ou dois) os reabastecimentos da Companhia 771 ao longo dos 24 meses de campanha na Guerra Colonial em Angola…a Companhia 771, safou-se e não teve nenhum morto ou ferido em combate...escapamos todos pelos "raios do calor africano"...e muitos ainda estão vivos e de boa saúde, para recontar a HISTÓRIA...este é o caso...









Estas fotografias foram enviadas pelo Maciel a residir em Brooklyn - USA e logo que possa coloco-as nos devidos sítios desde que me identifiquem os nomes, visto que não me lembro...

7 comentários:

Anónimo disse...

"furiel ramos" mando-lhe um grande abraço algures na Alemanha. Eu nao me chamo Domingos mas sim Pinheiro "cabo do rancho" o caldas

Adorei ler o seu comentário e um grande abraço extensivo a toda a malta da companhia 771

CCaç 4742/72 disse...

Saudações camarada

http://companhiacacadores474272.blogspot.pt/

Abraço

Anónimo disse...

Um bom texto. Detectei no entanto algumas incorrecções. A distância entre o Lufico e o Tomboco era de cerca de 60 Km. E terá confundido Santo António do Zaire, na foz do Rio Zaire, com São Salvador que ficava no interior

Anónimo disse...

(cont) portanto não seria possível a deslocação de São Salvador para Noqui, por barcaça. Eu fui Alf Mil Sapador do BCaç 3849 e reconheci todos os aquartelamentos que citou. A comissão foi de Agosto de 71 a Agosto de 73. O Cabº do Tope, estava desactivado e armadilhado. O BCaç 3849, tinha a CCS em Noqui e as Compªs Operacionais no Cabeço da Velha, M'Pala e M'Pozo. No entanto o Lufico, também dependia operacionalmente do BCaç, de Noqui, assim como na via para São Salvador,também a Canga.

Palhão disse...

Agradeço as correcções e agradeço também o contacto passados tantos anos - apesar de tudo foi um tempo inesquecível aquele que passamos em Angola - ainda se continua a fazer a reunião anual da Comp. 771 que pertenceu ao Bat.774 cujo comandante era o Tenente Coronel Milreu já (falecido).
Abraço para os anónimos...
Álvaro Ramos

José Clérigo disse...

Sou filho dum vosso camarada, já falecido, gostava de conhecer os camaradas que serviram ao lado do meu pai.
José Clérigo
967417074

Anónimo disse...

Olá Pinheiro, primeiro cabo do rancho 771. Sou o primeiro cabo Lisboa e gostava muito de conversar contigo, portanto se vires esta mensagem e quiseres entrar em contacto comigo, o meu número é 912220298 ou 218055076, e moro em Loures, Lisboa.

Um grande abraço,

Lisboa