domingo, 25 de agosto de 2013

Batalhão 774, Companhia 771 - (4) ANGOLA

…O Vera Cruz e a “sargentada” das companhias, 771,772 e 773 e 774…

A verdade que todos desconhecíamos em profundidade por falta de experiência era-nos relatada por veteranos que também faziam parte da companhia 771…nas conversas, notamos que havia receios nos mais velhos que contavam coisas de arrepiar...especialmente quando se referiam a 1961 e aos massacres que a UPA, comandada por Hoden Roberto teve a pouca vergonha de executar no Norte de Angola...muitos de nós tínhamos o livro publicado em 1961 dos massacres da UPA e só de pensar que muitos, foram esventrados por serras mecânicas existentes nas fazendas faziam-nos adivinhar que muitas coisas poderiam correr mal...um Vat 69 vinha sempre a calhar e para esquecer, alguns de nós não fazíamos cerimónia...

É bem verdade e em retrospetiva, que no final da campanha e em contraste com abraços efusivos e gritos de alegria, sobressaiam os “caixotes” que eram descarregados sorrateiramente e empilhados ao longo do cais, que traduziam de forma calada que o esposo, o namorado, o filho ou o neto não voltariam mais…no entanto as saudades dos que chegavam eram imensas e a lindíssima Baía, o Musseque de S.Paulo, a Ilha do Mussulo, o Tamar, a Portugália, o Pólo Norte, os machimbombos, os sinaleiros, a cuca, a nocal, sempre presente nas comemorações, o capim, as picadas, os cagaços, os mosquitos, os atolamentos das viaturas provocados pelas chuvadas que lançavam o caos nas colunas que se deslocavam num território imenso, foram acontecimentos únicos e que jamais os soldados portugueses que por lá passaram esquecerão e isso atenua bastante a memória das desgraças que aconteceram mesmo…no final da campanha percebemos aqueles que tiveram a sorte imensa de poder contar a história com conhecimento de causa e hoje poderem com saudade recordar um daqueles momentos que nos marcam para toda a vida...

Por obrigação, todos fomos vacinados contra a febre amarela e todos sabíamos dos perigos, como sejam, os comprimidos de sal, as hepatites, os herpes, a terrível malária, o paludismo que obrigava à tomada de dois comprimidos de quinino todos os santos dias, da mosca do sono, sabíamos dos males da matacanha, da célebre bisnaga anti doença venérea, como se sabia da praga dos mosquitos e alguns deles que inoculavam larvas na derme ou dos perigos da água imprópria para consumo que tinha como única salvação a fervura ou o cloro, já que, não havia em lado nenhum água domiciliaria potável, para além evidentemente de todas as condições higiénicas que faltavam serem propícias ao desenvolvimento de bactérias perigosas, das baratas e dos percevejos que quando atingiam a pele causavam estragos irreparáveis…também sabíamos que o terreno era duro e o inimigo implacável, mas o que tem de ser tem mais força e estava em marcha...muitos de nós "assumiram a defesa da pátria"apesar de saberem que esta guerra era injusta e que mais tarde ou mais cedo, o povo angolano alcançaria a independência...

continua nr. 5

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