domingo, 25 de agosto de 2013

Batalhão 774, Companhia 771 - (3) ANGOLA

Maçaricos, por “mares que nunca antes navegaram”…

Com a medalha em metal pobre pendurada no pescoço, de queixo na amurada, extasiados pelo mar imenso, os dias e as noites eram um espetáculo nunca visto e todos olhávamos para os peixes voadores que “apostavam”, quem chegava mais alto e mais longe e alguns circunspectos na problemática da passagem da linha do equador, que alguns mais experientes afirmavam ser um pequeno “salto” que o Vera Cruz teria de dar, o tempo pouco contava e a piscina, os bares, as bebidas exóticas, os cigarros, o contrabando e os passatempos que estavam sempre a abarrotar de curiosos a quem o dinheiro não faltava, preenchiam todo o tempo de mar aberto – a tropa com a moral em alta era bem tratada e com Angola na mira parecia tudo um sonho, tudo um conto de fadas…os portugueses são um povo excecional, adaptando-se com rapidez aos altos e baixos que a vida oferece e rapidamente “dançam consoante a música” – nesta altura a aventura que se estava a desenrolar diante dos olhos, não fazia adivinhar nada que não fosse possível ultrapassar e de certo modo todos aproveitamos o cruzeiro com satisfação -  não me lembro de ter vislumbrado nenhum tipo de depressão que pudesse agudizar algum sintoma mental grave…quem o tivesse tinha o recato do camarote e aí podia desembaraçar-se facilmente da psicose da guerra que ia travar e mesmo safar-se facilmente dalguma melancolia causada pelo afastamento do quotidiano familiar recorrendo ao bar que estava sempre aberto...

Finalmente terra à vista e Luanda ao longe parecia uma coisa do outro mundo - embora soubesse que a guerra não era em Luanda, sempre pensei que o desenvolvimento urbano não tivesse a envergadura que todos estávamos a admirar...

A chegada a Luanda, com o Vera Cruz a encostar aos cais, foi triunfal e depois do desembarque, a parada onde se ouviram alguns (poucos) gritos de “viva Portugal”, tornou-nos a todos um pouco mais importantes – as cerimónias da chegada apesar do aparato, notava-se por parte das chefias uma certa pressa para abandonar o local e o toque a reunir deu o sinal de partida para o Grafanil, um entreposto militar, que distava, segundo diziam uns 15 km de Luanda…


...a bonita baía e emoldurar Luanda em 1965 e nós, especados nas amuradas e um tanto apanhados de surpresa deliramos com o que estávamos a ver... tinham-nos dito que África era um Continente subdesenvolvido, mas isto era uma cidade melhor do que algumas no Continente...

continua nr. 4

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